A Comissão Interamericana de Direitos Humanos instou na quinta-feira o governo de El Salvador a respeitar o devido processo legal e os direitos humanos durante o estado de emergência declarado no mês passado após um aumento nos assassinatos de gangues.
Em um comunicado à imprensa, a CIDH reiterou sua condenação ao aumento das mortes violentas em El Salvador, expressou sua solidariedade com as famílias afetadas e lembrou que as vítimas devem obter justiça e reparação.
Depois de registrar 62 homicídios em 26 de março, número que não era visto há anos em El Salvador, o Congresso aprovou o estado de emergência que limita a liberdade de associação, suspendendo o direito de uma pessoa ser devidamente informada de seus direitos e motivos de prisão e a assistência de um advogado.
Desde então, mais de 14.000 pessoas foram presas.
Diante da suspensão das garantias, a CIDH afirmou que, embora o Estado salvadorenho tenha o direito e a obrigação de garantir a segurança e manter a ordem pública, “seu poder não é ilimitado, pois tem o dever, em todos os momentos, de aplicar procedimentos de acordo com a legislação vigente e respeito os direitos fundamentais de todas as pessoas sob sua jurisdição”.
Em agosto de 2015, o Supremo Tribunal classificou os membros da gangue e seus colaboradores, apologistas e financiadores como terroristas, permitindo que fossem processados sob a figura que impôs sentenças de seis a nove anos de prisão.
Mas com a reforma do Código Penal do Congresso, as gangues agora são consideradas criminalmente ilegais e seus membros podem ser condenados a 20 a 40 anos de prisão, enquanto para os líderes a sentença sobe para entre 40 e 45 anos de prisão.
Qualquer pessoa ou mídia que reproduza e transmita mensagens originadas por gangues também é punível com 10 a 15 anos. Não está claro, no entanto, quem determinará se o conteúdo deve ser penalizado ou quem ficará encarregado de detectar uma mensagem que viole a lei.
Para combater a escalada da violência criminosa de gangues, policiais e unidades militares fortemente armadas invadiram comunidades populosas com a presença dessas estruturas criminosas. Eles também cercaram as áreas com arame farpado e revistaram quem entra ou sai, exigindo identificação e verificação de seus pertences.
De acordo com a CIDH, durante as operações policiais e militares, organizações de direitos humanos e a imprensa denunciaram que “muitas das prisões foram realizadas ilegalmente, arbitrariamente e por meio do uso da violência”.
Ele acrescentou que as capturas foram baseadas em percepções subjetivas, “sobre pertencer a grupos criminosos devido a fatores como aparência física, idade, área onde vivem”.
Afirmou ainda que a suspensão de certas garantias judiciais impediu o conhecimento dos motivos da privação de liberdade, bem como o acesso à assistência jurídica e o contato com familiares.
A CIDH criticou o fato de El Salvador ter alterado o Código Penal para crimes relacionados ao crime organizado, que inclui gangues, e que aplica 20 anos de prisão a adolescentes com mais de 16 anos e até 10 anos a maiores de 12 anos.
A agência também pediu ao Estado salvadorenho que investigue os responsáveis por violações de direitos humanos e adote uma política de segurança abrangente que tenha como premissa a proteção desses direitos.
Por seu lado, o procurador-geral da República, Rodolfo Delgado, justificou declarar o regime de emergência “porque havia condições que não eram normais no nosso país em termos de segurança, houve um aumento de homicídios, chegou a 62 num dia”.
Em um talk show com o Canal 10 local, Delgado também confirmou que, na segunda-feira, 14.571 prisões de supostos membros de gangues ou colaboradores dessas estruturas criminosas foram tomadas. Os tribunais já ordenaram a prisão preventiva de 5.901 acusados.
As chamadas gangues ou gangues, que têm presença em bairros populosos do país, estão envolvidas no tráfico de drogas e no crime organizado, mas também extorquem dinheiro de comerciantes e empresas de transporte e assassinam aqueles que se recusam a pagar, de acordo com as autoridades.
Em 2012, o governo dos EUA incluiu Mara Salvatrucha (MS-13) em sua lista de organizações criminosas internacionais.
(Com informações da AP)
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