
A primavera voltou, tímida, para Washington, DC. Rajadas intermitentes de vento e baixas temperaturas ainda acompanham as dezenas de funcionários de todo o mundo que caminham pelas ruas H e K da capital dos EUA, muito perto da Casa Branca. Eles são os funcionários financeiros, financeiros e econômicos do Orbe que chegaram para reuniões de primavera em instituições multilaterais, incluindo um punhado de salvadorenhos que ainda não consideraram morta a negociação entre o Fundo Monetário Internacional e o governo de seu país para um empréstimo de US $1,4 bilhão.
Desta vez Alejandro Zelaya, ministro das Finanças do presidente Nayib Bukele e que liderou a voz principal nas negociações com o FMI, não veio a Washington. A delegação agora é menor. É liderado pelo presidente do Banco Central da Reserva, Douglas Rodríguez, que foi acompanhado por dois diretores da seção de finanças e, como assessor, por Miguel Kattán, secretário de comércio do governo e tio do presidente. Duas autoridades norte-americanas familiarizadas com as reuniões de primavera em Washington confirmaram à Infobae a composição da delegação salvadorenha.
El Salvador continua precisando da linha de crédito do FMI e de outras possibilidades de financiamento multilateral que poderiam ser abertas se o empréstimo de US $1,4 bilhão for aprovado, para cumprir seus compromissos financeiros, que incluem o pagamento de US $800 milhões aos credores em janeiro de 2023. Sem esse dinheiro, vários especialistas e analistas de risco alertaram, El Salvador poderia estar muito perto da inadimplência, algo que o governo de Bukele negou.
A última vez que uma delegação de El Salvador veio a Washington para negociar com o FMI foi em novembro do ano passado, no âmbito das chamadas reuniões de outono. Naquela época Zelaya desembarcou na sede do Fundo, acompanhado por Ibrajim Bukele, irmão do presidente e um de seus principais conselheiros em questões econômicas.
Em novembro, Zelaya não voltou com boas notícias a El Salvador. Mesmo assim, antes da conclusão de uma revisão técnica das condições econômicas e financeiras do país, o FMI havia alertado El Salvador que, para colocar as negociações de US$1,4 bilhão nos trilhos, o governo deve se comprometer com um ajuste fiscal equivalente a 4% do PIB em 3 anos, o que envolve reduzindo US$715 milhões de gastos públicos e aumentando a receita em $315 milhões.
No outono passado, o ministro Zelaya também teve que dar explicações sobre o orçamento que o governo salvadorenho havia apresentado para 2022 e cujas primeiras versões o FMI considerou “expansivas”. Naquela época, El Salvador estava até disposto a modificar o plano de gastos para realizar as negociações.
Os salvadorenhos também tiveram que ouvir como o Fundo pediu explicações para o uso do governo de US $389 milhões que a empresa multilateral havia dado ao país para cobrir as despesas geradas pelo cuidado com a pandemia de Covid-19.
Até então, as relações entre San Salvador e o governo de Joe Biden nos Estados Unidos haviam atingido seu pior momento em décadas devido aos constantes confrontos que o salvadorenho gerou depois que Washington o exigiu, através de questionamentos públicos e da retirada de vistos de funcionários acusados de corrupção. e para realizar negociações com as gangues MS13 e Barrio 18, devido à deterioração da situação política no país centro-americano. Nas negociações com o Fundo, a palavra da Casa Branca americana e do Departamento do Tesouro é vital.
Tudo isso esfriou as negociações, mas não as matou.
Em janeiro de 2022, depois de concluir a chamada revisão do Artigo IV — no âmbito do acordo assinado com os Estados membros que prevê a revisão periódica das condições econômicas dos países — o conselho do FMI deixou a porta aberta para novas negociações, mas emitiu novos avisos. O Fundo insistiu em “vulnerabilidades fiscais relacionadas à dívida pública” e, pela primeira vez, tocou em uma das questões mais polêmicas da era Bukele: a adoção do Bitcoin como moeda de circulação legal, estabelecida em 2021.
“A adoção de uma criptomoeda como curso legal envolve sérios riscos para o mercado e a integridade financeira”, alertou o FMI.
Os mercados foram, de fato, os primeiros a reagir. No início de 2022, a Moody's baixou a classificação de risco de El Salvador para a categoria Caa2 (qualidade de risco ruim ou muito alta), que já é considerada um junk bond, como explicou à Infobae um analista de Wall Street após a situação salvadorenha.
O cenário padrão já era real. Uma análise da Bloomberg, por exemplo, estabeleceu, em janeiro passado, que o preço do seguro da dívida salvadorenha havia triplicado desde a adoção do Bitcoin como moeda legal. De acordo com um dos analistas consultados em Nova York, os investidores já estavam preocupados que “as más relações entre El Salvador, Estados Unidos e o FMI” arruinassem as projeções econômicas do país centro-americano.
Os alarmes também dispararam no Congresso dos Estados Unidos. Em março, com o apoio de republicanos e democratas, o Comitê de Relações Exteriores do Senado aprovou uma lei exigindo que o Departamento de Estado informasse regularmente sobre os riscos que a circulação de Bitcoin em El Salvador poderia representar para os Estados Unidos. Depois dessa lei, explicou um assistente legislativo conhecedor das discussões em torno dela, há uma suspeita de que, na ausência de controles democráticos em El Salvador, os sistemas financeiros dos EUA podem ser permeados por dinheiro cuja origem não é clara.
Em abril, outra questão espinhosa para El Salvador foi adicionada em Washington. Em seu relatório anual sobre o respeito aos direitos humanos no mundo, o Departamento de Estado incluiu, no capítulo salvadorenho, observações sobre o pacto de gangues de Bukele, a deterioração das instituições democráticas e a tendência de acumular poder através do controle presidencial do Legislativo e Judiciário. Embora esses relatórios geralmente não sejam definidores nas negociações envolvendo o FMI, um funcionário multilateral alertou, em um bate-papo com a Infobae, que desta vez, devido às persistentes alegações contra Bukele, o que o relatório do Departamento de Estado diz que pode ser uma âncora para argumentar, com base em um relatório oficial do governo dos Estados Unidos, resoluções que não favorecem El Salvador.
Encurralado, Bukele enviou Zelaya, seu ministro das Finanças, para tentar vender títulos protegidos por Bitcoin na Europa, que o governo chamou de Bono Volcán. Do Velho Continente, o ministro também voltou com poucas notícias.
Sem o barulho habitual, o governo avançou dois outros caminhos possíveis em sua busca por dinheiro: uma reforma do sistema previdenciário que anuncia há meses, mas da qual ainda não deu detalhes, e um acordo com a CAF, o banco de desenvolvimento da América Latina, com o qual Bukele assinou um acordo em fevereiro. De qualquer forma, dois analistas de risco consultados em Wall Street disseram à Infobae que é muito difícil antecipar se essas ferramentas darão a Bukele a liquidez necessária para cumprir o vencimento da dívida em 2023.
A percepção de que algo não estava funcionando estava crescendo e Bukele parecia perder a iniciativa na conversa. Isso foi até o final de março, quando um aumento repentino na violência das gangues permitiu que o presidente se concentrasse novamente na segurança pública e deixasse de lado, pelo menos por enquanto, a irritante questão da dívida e da inadimplência.
Um dos mares em que Nayib Bukele costumava navegar com o vento a seu favor é o da percepção do público. Seu domínio da comunicação digital, acompanhado por um poderoso aparato de propaganda tradicional e assédio da imprensa independente, permitiu-lhe controlar a narrativa política. Isso, de acordo com algumas análises de conteúdo feitas em El Salvador, começou a mudar um pouco em meados de 2021.
A partir de maio do ano passado, e até 2022, “o nível de negatividade sobre o curso do país estava crescendo constantemente até janeiro de 2022... Na verdade, até meados de março, quando a questão da inflação era predominante”, diz uma análise da Digital Insights, empresa que avalia diariamente a conversa digital em El Salvador.
A conversa mudou em abril, quando a questão da segurança pública voltou a ser a mais importante. Não foi uma mudança livre: foi precedida, primeiro, por uma distorção no pacto que Nayib Bukele mantém com as gangues MS13 e Barrio 18, que causou 87 assassinatos em 72 horas no último fim de semana de março; e, em seguida, pelo decreto de um regime de emergência e emendas legais que limitaram o direitos constitucionais da população e restringiram a liberdade de imprensa no país, algo que tem permitido ao governo um controle mais rígido da narrativa. Com essas emendas, por exemplo, um jornalista que relata o pacto de Bukele com gangues pode passar até 15 anos na prisão.
“O controle da narrativa e a encenação de um governo que resolve (seja através do regime de exceção ou controle de preços) os problemas mais sinceros da população conseguiu conter a onda de raiva que atinge outros governos”, diz a análise do Digital Insights sobre as medidas tomadas pelo presidente após o aumento da violência e, antes disso, outros econômicos que Bukele anunciou por causa do aumento dos preços do petróleo que levou à invasão da Ucrânia pela Rússia.
A violência das gangues parou por enquanto. As novas medidas decretadas no regime de emergência já são leis da república. Bukele e El Salvador, no entanto, ainda não têm dinheiro para pagar seus compromissos financeiros e, a julgar pelo tamanho e qualidade da delegação que veio a Washington para conversar com o FMI, essa continua sendo uma via difícil.
Apesar de o ano fiscal de 2021 ter trazido bons números de receita tributária para El Salvador - US$300 milhões a mais do que no período anterior, segundo dados oficiais -, o governo ainda não está fechando as saídas de dinheiro, o que, na prática, mantém a percepção do FMI de que a vulnerabilidade fiscal permanece intacto.
E, se você olhar para o que os deputados de Bukele fizeram no Congresso salvadorenho após o aumento da violência, o governo de El Salvador não vai parar de inflar os gastos públicos. Na quarta-feira, 21 de março, em sessão plenária, os bukelistas aprovaram uma lei especial para construir novas prisões sem a necessidade de concursos financeiros prévios. No final, na questão da dívida, tudo permanece em zero: mais gastos em um cenário padrão.
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