As críticas do presidente Andrés Manuel López Obrador à imprensa contribuem para um “clima de decomposição” e violência em um país que tem oito jornalistas mortos até agora este ano, como considerou esta terça-feira a Associação Interamericana de Imprensa (SIP).
“Em três anos, o artigo 19 contabilizou 1.945 ataques à imprensa pelo presidente Andrés Manuel López Obrador, além de 30 assassinatos de jornalistas e dois desaparecimentos. E de dezembro de 2018 a 2021, desde a Presidência, os ataques a jornalistas aumentaram 85%”, diz o relatório sobre o México, que ainda está pendente de aprovação na reunião semestral da organização, que começa nesta terça-feira.
A organização lembrou que as principais associações não governamentais do mundo concordam com o grau de perigo que existe no México para exercer a profissão.
Além disso, ele disse que todos os jornalistas mortos em 2022 estavam em “áreas da província mexicana” e a maioria tinha um histórico de ameaças e pedidos de proteção.
De acordo com dados coletados pela ONG Artigo 19 e citados no relatório, López Obrador emitiu 1.945 ataques à imprensa desde o início de sua administração, em dezembro de 2018, período em que pelo menos 30% jornalistas foram mortos e dois desapareceram.
“E de dezembro de 2018 a 2021, desde a Presidência, os ataques a jornalistas aumentaram 85%”, detalha o relatório.
Devido aos ataques à imprensa e aos profissionais assassinados, jornalistas de todo o país realizaram protestos de vários tipos nos últimos meses exigindo o esclarecimento dos fatos, mas também a cessação das “expressões de estigmatização” proferidas pela Presidência.
No entanto, o presidente, segundo a SIP, “minimizou essas demandas”, insiste que os números de violência no México caíram e garante que a mídia tente prejudicar sua imagem com suas críticas.
Além disso, López Obrador acusou repetidamente jornalistas de fazerem parte de uma “conspiração comercial para afetar seu governo”.
Um exemplo disso é o espaço em sua coletiva de imprensa diária “Quem é quem nas mentiras”, onde ele critica a mídia não relacionada e afirma que a mídia o ataca “com falsidades”.
A SIP informa que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pediu ao presidente que excluísse esta seção, mas ele não o fez.
“É nesse ambiente de decomposição que centenas de ataques de criminosos e membros do crime organizado foram registrados, a fim de inibir o trabalho de informação”, aponta o relatório.
Em março passado, a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos alertou sobre “a normalização e o aprofundamento da violência contra jornalistas no México”.
Por meio de um comunicado à imprensa, a CIDH instou as autoridades a tomarem medidas para salvaguardar a vida dos jornalistas, além de combater a impunidade por crimes contra a imprensa.
“A Relatoria observa com particular preocupação a escalada da violência contra jornalistas no México e reitera que tais ataques violam a liberdade de expressão em suas dimensões individuais e coletivas, uma vez que afeta o direito da sociedade a ser informada e não pode ser tolerada em um sociedade democrática”, lê-se no comunicado.
Embora reconhecendo os esforços empreendidos pelo Estado, como a criação do Sistema Nacional de Prevenção e Proteção para defensores de direitos humanos e jornalistas, instou as autoridades a distinguir, dos mais altos níveis do Estado, a legitimidade e o valor do trabalho de jornalistas e repudiar em todos os momentos os crimes perpetrados contra eles.
“A Relatoria observa fragilidade nas garantias de liberdade de expressão no México e lembra ao Estado que aqueles que ocupam cargos de liderança pública são chamados a manter um discurso favorável à deliberação pública e a abster-se de fazer discursos que possam, direta ou indiretamente, incentivar ou promover a violência contra comunicadores e jornalistas”, afirma o documento.
Em 8 de setembro de 2021, o Supremo Tribunal de Justiça da Nação (SCJN) determinou que “o Congresso deve corrigir as omissões detectadas na Lei Geral de Comunicação Social, que permitem o gasto discricionário da publicidade governamental, para estabelecer critérios transparentes e claros para sua concessão”.
A Câmara dos Deputados, controlada pelo partido - criado por Andrés Manuel López Obrador - Movimiento Regeneración Nacional (Morena), “ignorou a questão e apenas disse que tem uma extensão judicial para corrigir a lei até 30 de abril”.
Com informações da EFE
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