Jineth Bedoya: Jornalista colombiana vítima de violência sexual que agora lutará da ONU pelas mulheres do mundo

A renomada ativista e escritora de Bogotá será porta-voz de mulheres que, como ela, foram vítimas de violência. Bedoya foi sequestrada e abusada sexualmente enquanto conduzia uma investigação na prisão de La Modelo, Bogotá, há 21 anos

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La periodista colombiana, Jineth Bedoya. EFE/RICARDO MALDONADO ROZO/Archivo
La periodista colombiana, Jineth Bedoya. EFE/RICARDO MALDONADO ROZO/Archivo

A Organização das Nações Unidas (ONU) terá uma nova cota colombiana: a jornalista Jineth Bedoya Lima, designou esta semana como novo embaixador global na luta contra a violência sexual.

Bedoya é uma das faces da violência de gênero no país e no continente, pois não só enfrentou agressão sexual, sequestro e tortura durante o conflito armado em sua terra natal, mas seu caso chegou às arquibancadas da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte Interamericana de Direitos Humanos), que, em uma decisão histórica, condenou o Estado colombiano pelos crimes a que submeteu hoje o editor-adjunto do jornal El Tiempo.

A jornalista de Bogotá disse que representa “um desafio e uma honra” tornar-se porta-voz das milhares de vítimas em todo o mundo que, como ela, sofreram o flagelo da agressão sexual. A ONU, por sua vez, destacou o trabalho distinto do comunicador por aqueles que foram agredidos.

“Recomendo sua coragem e compromisso em elevar a questão da violência sexual relacionada a conflitos à agenda pública e ao registro histórico na Colômbia e em todo o mundo, e sua busca por justiça, verdade e reparação por esses crimes hediondos ao longo de duas décadas”, disse a Diretora Executiva da ONU Mulheres. Pramila Patten.

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Patten não só destacou a nova embaixadora da ONU por sua nomeação, mas também pela decisão da Corte Interamericana a seu favor, em 20 de outubro de 2021, na qual declarou o Estado responsável pelo ataque a Bedoya dentro da prisão de La Modelo (Bogotá) em 25 de maio de 2000 e pela subsequente rapto, no qual foi agredida sexualmente, física e verbalmente por paramilitares.

“Essa decisão marca a primeira vez que um tribunal considera especificamente o uso da violência sexual como uma ferramenta para silenciar uma jornalista no contexto do conflito armado colombiano”, disse Patten.

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A decisão em questão surgiu 21 meses depois dos flagelos a que Jineth Bedoya foi submetida na penitenciária da capital enquanto tentava cumprir suas funções jornalísticas, quando foi àquele local para se envolver em uma entrevista com Mario Jaimes Mejía, vulgo 'el Panadero', um paramilitar condenado.

Segundo a Corte, o Estado não forneceu garantias básicas de segurança à jornalista e permitiu, uma vez que ela estava na entrada do centro de detenção, ela fosse sequestrada e submetida a todos os crimes “graves, precisos e consistentes”.

Vale lembrar que Jineth foi ameaçada por um sujeito que, depois de trancá-la por horas em um porão de La Modelo, a forçou a entrar em um carro, a transferiu para a cidade de Villavicencio e, no caminho, a submeteu aos ataques em questão.

A Corte Interamericana criticou as ações dos guardas do Instituto Penitenciário Nacional e Prisional (Inpec) que, sabendo que Jineth compareceria à prisão para realizar seu trabalho de informação, a deixaram sozinha e à mercê dos criminosos que a atacaram. “Junto com a estranha atitude do guarda na entrada, que teria deixado a Sra. Bedoya na porta sozinha no momento do sequestro, mesmo sabendo de sua visita”, diz o documento de 89 páginas emitido pelo tribunal.

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Nas perguntas que os juristas internacionais emitiram, sérias alegações também eram evidentes contra a Polícia Nacional, cujos membros tinham “pleno conhecimento da presença da senhora naquele momento na porta da prisão”, afirmou a Corte Interamericana, confirmando o que Jineth disse em múltiplas ocasiões, que em sua o sequestro envolveu membros desta instituição.

A decisão também questionou veementemente o fato de que o sistema de justiça colombiano levou tantos anos para determinar as penas contra os sujeitos que atacaram Bedoya. Depois de duas décadas, apenas três pessoas receberam condenações por crimes contra a vítima. “O tribunal observou que, na data de emissão da sentença, não havia sido possível determinar a autoria intelectual dos eventos ou de outros co-autores que pudessem ter participado deles”, acrescentou.

Especificamente, os condenados neste caso mediático foram os ex-paramilitares Alejandro Cárdenas ('J. J. ') e Jesús Emiro Pereira Rivera (' Huevoepizca '), a 30 e 40 anos de prisão, respectivamente, e 'El Panadero', condenado a 28 anos de prisão.

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Quando Bedoya foi vítima dos acontecimentos já descritos, atuou como correspondente do jornal El Espectador, de Bogotá, ao qual compareceu para documentar os assassinatos e lutas dos poderes mafiosos, entre outros eventos censuráveis ocorridos em La Modelo, uma das prisões mais antigas de Colômbia. Devido ao ocorrido, o julgamento da Corte Interamericana também abrigou Luz Nelly Lima, mãe de Jineth, que também sofreu muito com os ataques à filha.

A decisão também apoiou o programa No Time to Be Silent, desenvolvido por Jineth Bedoya desde 2010 e que lhe valeu hoje a se tornar um emblema do território colombiano para lutar contra esses crimes em todo o mundo.

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