O luto pela morte de Freddy Rincón na Colômbia e no mundo continua a trazer à luz memórias especiais do jogador de futebol, que foi preenchido com histórias ao longo de seus 55 anos e seu tempo com importantes equipes nacionais e internacionais. Infelizmente, nem todas as histórias são positivas: também foi lembrado que, como muitos outros afro-colombianos, 'O Colosso de Bonaventura' sofreu ataques racistas.
Um dos momentos que Rincón marcou para sempre na história dos futebolistas nacionais foi sua contratação pelo Real Madrid, ao se tornar o primeiro colombiano a vestir a camisa da seleção europeia e, da mesma forma, o primeiro a estar na Liga dos Campeões. Foi na temporada 1995/96 que os colombianos ficaram emocionados com a chegada do Buenos Aires ao futebol europeu. No entanto, seu tempo no 'merengue' não acabou sendo o esperado, o atleta estava apenas em 21 jogos e marcou um gol. A passagem de Rincón no Real Madrid foi mais curta do que o planejado, pois não atingiu o nível que ele havia demonstrado anteriormente e os insultos racistas dos torcedores europeus não aliviaram a situação.
Deve ser lembrado que Freddy Rincón se destacou no futebol nacional e, especialmente, quando ele estava na Copa do Mundo de 1990 com o Tricolor e marcou o lendário gol contra a Alemanha. Depois disso, o colombiano posicionou sua carreira no futebol brasileiro, fazendo parte principalmente dos integrantes do Palmeiras e Corinthians. Seu talento o levou para a Itália, onde jogou pelo Napoli na Itália, e de lá ele saltou para um dos clubes mais importantes da Espanha, o Real Madrid.
Muitos fatores poderiam ter influenciado que o talento que chamou a atenção do Real Madrid para 'El Colosso' não foi visto quando ele estava vestindo sua camisa, e um deles foi a rejeição pelos fãs do 'merengue' após sua chegada, tudo por causa de sua cor de pele e seu país de origem.
Quando Rincón foi contratado pela seleção europeia, em Madrid, as paredes do estádio Santiago Bernabeu estavam cheias de grafites em que as ideias xenófobas dos adeptos foram destacadas e, ao mesmo tempo, a rejeição de Jorge Valdano, treinador do Real Madrid na época, por apenas trazer 'moletons' para o clube.
Naquela época, jornais como El País de España ou Diario AS mostravam em suas publicações as frases que os fãs escreveram. “Volte para a selva”, “saia daqui, não queremos você”, “nós vamos te matar”, “a KKK (Ku Klux Klan) está procurando por você”, “você é um alvo fácil”, foram algumas das mensagens endereçadas ao colombiano na época.
Rincón se referiu a esses eventos em uma entrevista com Marca, enfatizando que ele viveu um momento muito triste na equipe europeia:
Além dos insultos dos torcedores da seleção europeia, os diretores também foram contra a decisão do técnico argentino e influenciaram o colombiano a não conseguir provar sua coragem nas quadras. Isso foi apontado pelo próprio Freddy Rincón em uma entrevista à CNN en Español em 2017, na qual lhe perguntaram por que seu tempo no Real Madrid não havia funcionado.
“O Real Madrid é uma equipe difícil, o nome diz que é 'realeza', há muitos interesses e muitas pessoas por trás do que a equipe é. Infelizmente, o único homem negro da equipe era eu e aquele que era vice-presidente na época, Lorenzo Sanz, disse que quando ele era presidente o primeiro jogador que ele tiraria seria eu, ele o usou como uma campanha para se tornar presidente do Real Madrid. Fui privado da oportunidade de jogar futebol e, até agora, não sei por quê, porque só sei jogar futebol”, disse o atleta que faleceu no dia 13 de abril.
Valdano tentou defender sua decisão e cuidar de Rincón, várias vezes ele se referiu às declarações dos seguidores como uma “ideologia nojenta”, mas o argentino também estava amarrado pelas mãos e não podia influenciar as decisões. Finalmente, Valdano foi demitido do Real Madrid e pouco tempo depois o colombiano também saiu.
Rincón concluiu nessa entrevista que “eu não tinha ser branco. Eu não sofria de racismo todos os dias, mas para jogar pelo Real Madrid, sim.”
CONTINUE LENDO: