Hector Llaitul, líder do Coordenador Arauco-Malleco (CAM), uma das organizações radicais de defesa mapuche no Chile, disse quarta-feira que não conversará com a atual ministra do Interior, Izkia Siches.
“Com essa posição que ela assume, não a consideramos mais uma interlocutora válida. Não temos a menor intenção de diálogo quando há discursos desse tipo”, disse Llaitul na comunidade Buta Rincón, na região de La Araucania (sul), segundo a mídia local.
As declarações vieram um dia depois de Siches anunciar, perante a Câmara dos Deputados, um reforço da presença policial na parte sul do país, onde houve um conflito territorial amargo entre os povos indígenas mapuche, o Estado e grandes empresas agrícolas e florestais para décadas.
O líder do CAM, uma organização que reivindicou ações hostis, acrescentou que o governo está tentando fazer “um modelo artificial” com “a violência que a resistência mapuche exerce quando se trata de enfrentar os interesses dos bens de capital e contra a repressão brutal e criminosa que é exercido no “Wallmapu” (território Mapuche).
Nova estratégia
Desde que o atual presidente, Gabriel Boric, assumiu o cargo em 11 de março, foi implantada uma estratégia que consiste em permanecer na área por meio de várias autoridades governamentais para tentar estabelecer um “diálogo” com representantes de todas as partes afetadas pelo conflito.
Em sua recente visita a Buenos Aires, Boric disse: “Decidimos um caminho que é o do diálogo, e esse diálogo incomodará muitos. Isso incomodará aqueles que acreditam que, da violência ou do confronto, as coisas podem ser alcançadas”.
Boric, que assumiu o cargo em 11 de março, discordou daqueles que acreditam que o conflito que existe “entre o Estado chileno e o povo da nação mapuche” é apenas de ordem pública, pois ressaltou que também é “um conflito histórico e político”.
“É um conflito entre o Estado chileno e o povo mapuche. E não vamos ignorar isso”, reiterou.
Semanas atrás, Siches foi recebido na entrada de uma comunidade indígena com uma série de tiros no ar. E, também semanas atrás, o subsecretário do Interior, Manuel Monsalve, teve que interromper sua agenda na região de Biobío porque um grupo de pessoas o cortou em uma das estradas.
O CAM, a organização mais importante do movimento “autonomista” Mapuche nos últimos 20 anos, realizou inúmeras ações violentas de 1997 até os dias atuais. O mais recente foi a queima de três caminhões na região de Araucania em março passado.
Aumento da violência
Nessa área e em outras regiões do sul do Chile, há décadas ocorre o chamado “conflito Mapuche”, que enfrenta empresas extrativas agrícolas e florestais ligadas a grandes conglomerados econômicos e grupos indígenas que reivindicam suas terras ancestrais.
O povo mapuche, o maior grupo étnico indígena do Chile, reivindica os territórios que habitam durante séculos, antes de serem ocupados à força pelo Estado chileno — no final do século XIX — em um processo oficialmente conhecido como “Pacificação da Araucania”.
No ano passado, essa disputa viu uma escalada de violência com frequentes ataques incendiários em máquinas e instalações, tiroteios envolvendo fatalidades e greves de fome por prisioneiros indígenas.
(Com informações da EFE)
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