Quem é Orlando Tardencilla, o ex-guerrilheiro que o ditador Daniel Ortega nomeou como seu novo embaixador na OEA?

O advogado lutou contra a ditadura de Somoza, foi deputado, embaixador e agora sua filha é uma das juízas aliadas do regime na perseguição aos opositores

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“Nomeie o camarada Orlando José Tardencilla como Representante Permanente da República da Nicarágua, com o posto de embaixador extraordinário e plenipotenciário, junto à OEA”, disse Ortega por meio do acordo presidencial 58-2022, publicado no diário oficial La Gaceta.

O “camarada”, como o ditador nicaraguense o chama oficialmente, é um advogado de profissão que lutou contra a ditadura de Somoza, que foi derrubada em 1979. Em 1980 ingressou na então guerrilha salvadorenha Farabundo Martí Frente de Libertação Nacional (FMLN) e foi preso naquele país um ano depois.

Depois de um ano em prisões salvadorenhas, ele foi enviado aos Estados Unidos para testemunhar que sua presença em El Salvador era prova de que os sandinistas, com o apoio do governo de Fidel Castro de Cuba, estavam exportando guerra e comunismo através da América Central, e uma vez em Washington, na frente de jornalistas, ele disse o contrário e acusou os Estados Unidos de “estarem determinados a atacar a revolução nicaraguense” na época.

Ele é o pai da juíza leal ao regime Nadia Camila Tardencilla Rodríguez, chefe do Segundo Tribunal Distrital Criminal de Manágua, que ordenou a prisão de defensores dos direitos humanos e jornalistas. Na semana passada, de fato, ele impôs uma pena de nove anos de prisão “por suposta lavagem de dinheiro” ao gerente geral do jornal nicaraguense La Prensa, Juan Lorenzo Holmann Chamorro.

Pertenceu ao partido Nicaraguense Christian Way (CCN) e fundou o partido Alternativa para a Mudança, que se aliou à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), no poder, desde 2011.

Além disso, ele serviu por três meses como embaixador do país no Escritório das Nações Unidas (ONU) e outras organizações internacionais, com sede em Genebra, Suíça.

Tardencilla também foi deputada da Assembleia Nacional e do Parlamento Centro-Americano.

A nomeação de Tardencilla ocorre 11 dias depois de Ortega destituir o jornalista e diplomata Arturo McFields Yescas, que denunciou durante uma sessão do Conselho Permanente da OEA uma “ditadura” em seu país e exigiu a libertação de opositores presos.

Intervenção de Arturo McFields na OEA

“A OEA recebe hoje o guerrilheiro Orlando Tardencilla com um tapete vermelho. Esquecendo os 181 presos políticos, 355 mortos e 170.000 exilados. As democracias da América Latina não podem ficar caladas. Os bandidos ganham quando os mocinhos ficam em silêncio”, disse McFields, em sua conta no Twitter.

Apresentação da Belicosa

Na última sexta-feira, Tardencilla apresentou suas credenciais com um discurso em que atacou a agência por ser um “instrumento de agressão” controlado pelos Estados Unidos. “Essa organização informalmente falhou em aplicar sua própria norma fundadora, tornando-se um triste instrumento de agressão por parte do Governo dos Estados Unidos, que a reconverteu no que viria a ser conhecido como Ministério das Colônias dos Estados Unidos”, disse Tardencilla em seu discurso.

O novo embaixador criticou que a OEA tenha realizado “atos infames contra vários povos” e condenou a imposição de sanções à Nicarágua pelas “agências do governo dos Estados Unidos com a cumplicidade dos governos fantoches na Europa e na América Latina”.

Diante disso, ele afirmou que a Nicarágua “não se reconhece como uma colônia de nenhuma potência estrangeira”. “Hoje estamos aqui para reiterar que defendemos nossa independência e soberania jurisdicional a que temos direito”, afirmou o novo embaixador da Nicarágua na OEA, organização que Ortega prometeu abandonar.

Organizações de direitos humanos estimam que pelo menos 170 opositores tenham sido detidos desde os protestos de 2018 contra o governo nicaraguense, incluindo sete potenciais rivais eleitorais de Daniel Ortega, que venceu as eleições presidenciais de novembro pelo quarto mandato consecutivo.

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