“O chumbo é o que está lá”, o relatório da Pares que mostra o crescimento dos grupos armados durante o mandato de Duque

O relatório da Peace and Reconciliation Foundation mostra que o Clã do Golfo é o grupo criminoso com maior presença no país. Também conseguiu identificar três estágios do pós-conflito, de acordo com indicadores de violência e a dinâmica dos grupos armados

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Foto de archivo. Soldados del Ejército Nacional de Colombia hacen guardia durante una operación de erradicación de cultivos de coca en Tarazá, en el departamento de Antioquia, Colombia, 10 de septiemre, 2019. REUTERS/Luis Jaime Acosta
Foto de archivo. Soldados del Ejército Nacional de Colombia hacen guardia durante una operación de erradicación de cultivos de coca en Tarazá, en el departamento de Antioquia, Colombia, 10 de septiemre, 2019. REUTERS/Luis Jaime Acosta

Em janeiro de 2019, um homem ficou famoso na Colômbia quando proferiu a frase: “Não será negociado, chumbo é o que está por vir, chumbo é o que está por vir”, disse um apoiador do governo nacional em meio a uma marcha para rejeitar o ataque realizado pelo ELN à Escola Geral de Cadetes Santander, em 17 de janeiro daquele ano.

A linha de pesquisa da Fundação Pares sobre Paz, Pós-Conflito e Direitos Humanos decidiu tomar esse aviso para intitular seu mais recente relatório “Liderar é o que existe”, que reflete a situação de violência e segurança desde o início do mandato presidencial de Iván Duque Márquez, em agosto de 2018.

Para a fundação, essas palavras foram um mau presságio, porque durante o mandato de Duque, a guerra na Colômbia se intensificou. Pares conseguiu identificar três estágios do pós-conflito, de acordo com indicadores de violência e a dinâmica dos grupos armados.

A primeira situação seria um início de confronto em 2017, para depois passar para uma fase, entre 2018 e 2020, de disputa territorial e reconfiguração, e a última seria a estabilização armada por grupos armados de 2021 até hoje. “O período de governo de Iván Duque foi caracterizado pelo fortalecimento e expansão dos principais Grupos Armados Organizados do país”, alerta a fundação.

Entre os resultados apresentados por Pares, nota-se que o ano mais violento desde a assinatura do Acordo Final de Paz foi 201, quando ocorreram os maiores casos de homicídios, vítimas de minas antipessoal e deslocamentos em todo o país, como resultado da intensificação dos confrontos armados.

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O relatório também mostra que há uma presença do Clã do Golfo em 241 municípios do país. Enquanto o ELN tem impacto em 183, a dissidência de Gentil Duarte em 119 municípios e a chamada Segunda Marquetalia, com influência em 61. Isso significa que em 37% do território nacional existem grupos armados organizados.

Sobre a situação de vulnerabilidade vivida pelos líderes sociais na Colômbia, Pares destaca que 2020 foi o ano em que houve o maior aumento de assassinatos contra essa população. Só em Cauca, 61 eventos ocorreram. Este número foi seguido por Antioquia com 29 casos e Nariño, com 22. Desde 2016, a Colômbia tem consistentemente classificado em primeiro lugar com o maior número de homicídios contra defensores de direitos humanos na América Latina.

Em 2020, a Front Line Defender garantiu que a Colômbia era o país com mais homicídios contra essa população em todo o mundo. Os tipos de liderança mais afetados entre 2016 e março de 2022 foram os comunais, seguidos por indígenas, camponeses, comunitários e afrodescendentes.

No que diz respeito à substituição de cultivos ilícitos, acordada no Acordo Final de Paz, as Nações Unidas apontam que 92% dos hectares de coca que foram erradicados à força são semeados novamente, enquanto no caso da substituição de culturas, a nova semeadura equivale a apenas 0,8%. Quatro departamentos respondem por 70% da coca: Norte de Santander, Nariño, Putumayo e Cauca. Tibú (Norte de Santander) é o município que concentra mais coca em todo o país.

No caso da mineração ilegal, o relatório mostra que há uma alta concentração e evidências de exploração de ouro em áreas de operação de grupos armados como o Clã do Golfo e o ELN. Essa economia ilegal, por sua vez, representa um risco ambiental potencial devido ao seu desenvolvimento em espaços destinados à proteção dos recursos naturais.

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