César Hildebrandt: “O repúdio popular deslegitima Castillo, a sombra do presidente e o conato do parlamento”

O jornalista voltou a falar a favor da renúncia presidencial na coluna que escreve todas as sextas-feiras no semanário 'Hildebrandt em seus trezes'. Ele também criticou o premiê Aníbal Torres por sua frase sobre Hitler.

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A demonstrator waves a Peruvian
A demonstrator waves a Peruvian flag during a protest against Peru's President Pedro Castillo after he had issued a curfew mandate which was lifted following widespread defiance on the streets, as protests spiraled against rising fuel and fertilizer prices triggered by the Ukraine conflict, in Lima, Peru April 5, 2022. REUTERS/Alessandro Cinque

Esta foi uma das semanas mais críticas para o mandato de Pedro Castillo. Além de uma greve de transporte devido aos altos preços dos combustíveis, um toque de recolher surpresa foi adicionado em Lima e Callao que milhares de pessoas desafiaram com uma marcha contra o governo.

O jornalista César Hildebrandt se referiu a essa situação em sua seção 'Matices' no semanário 'Hildebrandt em seus trezes'. Na sua coluna 'O Fim da História', o líder de opinião reitera que a solução pacífica para esta situação é a demissão do presidente, conforme solicitado há semanas. Sua partida é uma opção imperativa. A outra alternativa é a violência, o caos, a raiva que une pessoas e multidões.

Ele afirma que a vice-presidente Dina Boluarte deve assumir um breve governo de transição que convoca eleições gerais do Executivo e do Congresso.

Ele argumenta que, para enfrentar uma situação como a atual, era necessário um governo efetivo. Era necessário que um líder tomasse decisões, mas Castillo tem sido uma decepção constante. “Não é que nos falte um governo que esteja à altura da ocasião. O grande problema é que nem temos um governo. Não é possível chamar esse conselho de pessoas irresponsáveis desencorajadas de 'poder executivo' chefiado por um homem que cita as rodovias de Hitler como um exemplo de planejamento”, diz Hildebrandt.

Para o jornalista, é impossível esperar que Castillo faça as coisas certas, por causa de seu narcisismo, ignorância e má companhia “(Cerrón, acima de tudo, que é sua própria cobiça) arrasta-o para o abismo. Suas deficiências perceptivas desfiguram a paisagem.”

Isso indica que Castillo é o homem que foi eleito, sem fraude ou defeito, presidente da República “que nos salvou do submundo fujimorista que a ala direita, teimosa como uma mula, estava mais uma vez resolvendo. O antifujimorismo votou nele e a rejeição do neoliberalismo chato e falso completou a tarefa.”

SEM DESCULPAS

Hildebrandt acredita que é doloroso que um governo de origem popular termine assim e também afirma que houve uma conspiração da mídia contra ele. Mas isso não justifica as ações dele. Ele dá como exemplo o governo mexicano de Andrés Manuel López Obrador, que tem confrontado o exército da imprensa e da televisão de direita. E apesar de enfrentar conferências de imprensa ferozes, mantém 66% do apoio popular após quatro anos de governo e está prestes a sujeitar a permanência de seu regime a um referendo.

Ele traça outro paralelo com o ex-presidente chileno Salvador Allende, para quem a imprensa tornou a vida impossível. Mas mesmo no ano de sua morte, Allende ganhou eleições.

“Não há conspiração de direita que possa destruir um governo que é verdadeiramente apoiado pelo povo. A direita pró-nazista do Chile teve que bombardear La Moneda e forçar Allende ao suicídio para se livrar de um governo que manteve seu apoio invicto.

Esse não é o caso de Pedro Castillo”, diz.

Em vez disso, ele argumenta que a tarefa de acabar com Castillo foi obra de si mesmo. “Todos os dias, em todos os momentos, com todas as presenças, o Presidente da República demonstrava-nos com entusiasmo a brevidade do seu alcance, a natureza letal da sua nulidade, a sua terrível vocação para o absurdo, o argumento fantasmagórico com que formulou a sua ininteligibilidade.

É hora de dizer, da dignidade dos cidadãos, que isso tem que acabar”, aponta.

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