6 chaves científicas para conter as mudanças climáticas: de energia renovável a dietas sustentáveis

O painel de especialistas destacou que, se esse caminho continuar, o planeta começará a sofrer efeitos “devastadores”. Quais são as mudanças e o que pode acontecer se elas não forem feitas

24/03/2021 Globo terráqueo POLITICA INVESTIGACIÓN Y TECNOLOGÍA UNIVERSIDAD DE CURTIN

Uma frase com sabor de ultimato marcou o último relatório emitido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC): “É agora ou nunca”. A aceleração das mudanças climáticas, graças às emissões de gases de efeito estufa, surpreende os cientistas. Se seguirmos os parâmetros estabelecidos no Acordo de Paris, a catástrofe climática está quase garantida. É por isso que os especialistas analisaram essa situação em 6 chaves: de energia renovável a alimentos sustentáveis e cidades verdes.

O objetivo é se aproximar. Hoje, já há um aumento de mais de 1,1°C na temperatura do planeta. O objetivo estabelecido nessa reunião teve a assinatura não vinculativa de cerca de 200 países estabelecendo um limite entre 1,5° C e 2° C. No entanto, o tempo está se esgotando e os especialistas alertam que é necessário implementar medidas de mitigação e passar para zero emissões. Caso contrário, até 2100 o aumento será próximo de 3,2° C, com efeitos devastadores no planeta e na humanidade.

Em 6 chaves, os mais de 265 especialistas de 65 países indicaram quais ações os países devem tomar para evitar que a catástrofe climática se torne realidade. É por isso que eles disseram: “É agora ou nunca”. A ciência tem evidências científicas suficientes para deixar claro que, se as emissões não tocarem seu teto e não começarem a cair em 2025, ou seja, em 3 anos, a catástrofe climática está quase garantida.

De acordo com as estimativas do painel de especialistas, se os 3,2° C estabelecidos no relatório forem alcançados como a estrada para a qual o planeta está indo até o final deste século, as consequências seriam devastadoras: mega-incêndios, ondas de calor, secas, inundações, furacões e outros eventos climáticos extremos . As consequências serão sofridas tanto pela humanidade, com milhões de pessoas deslocadas e múltiplos danos, quanto pelos ecossistemas (com extinção de espécies animais e vegetais, entre outros aspectos).

Estamos em uma encruzilhada. As decisões que tomamos agora podem garantir um futuro habitável. Temos as ferramentas e o conhecimento para limitar o aquecimento”, alertou Hoesung Lee, presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Focando em 5 pontos e um sexto com alguns aspectos positivos que devem ser aprofundados, o IPCC fez recomendações para evitar que as mudanças climáticas se tornem irreversíveis e causem consequências devastadoras não apenas nos próximos anos, mas também nos próximos séculos.

1- Abandonar os combustíveis fósseis e avançar para a energia renovável

Os especialistas foram decisivos: devemos parar de usar esses combustíveis e fazer uma mudança não só na matriz energética mundial, mas também na propulsão do transporte de pessoas. Se o aumento da temperatura até 2050 for de apenas 1,5° C, o uso global de carvão, em comparação com 2019, deveria ter caído 100%, petróleo em 60% e gás em 70%.

No entanto, muitas nações ajudaram e ainda ajudam as indústrias de petróleo e carvão. Ainda mais desde que a invasão russa da Ucrânia começou e as consequências econômicas começaram a se espalhar por todo o mundo. No entanto, os especialistas alertam que, se apenas esses subsídios fossem eliminados, as emissões poderiam ser reduzidas em até 10% até 2030.

A solução, de acordo com especialistas do IPCC, é a transição para a energia renovável. “Embora os desafios operacionais, tecnológicos, econômicos, regulatórios e sociais persistam, uma variedade de soluções sistêmicas surgiram para acomodar grandes parcelas de energia renovável no sistema energético”, afirma o documento. E nesse mesmo tom, António Guterres, secretário-geral da ONU, posicionou-se: “É hora de parar de queimar o nosso planeta e começar a investir na abundante energia renovável que nos rodeia”.

2 - Declínio na geração de metano

O dióxido de carbono é estabelecido como o principal gás de efeito estufa. No entanto, especialistas alertam que o metano tem um poder maior para elevar a temperatura do planeta. Ele até afirma que eles têm um poder maior de até 21 vezes em um período de 100 anos, embora algumas pesquisas indiquem que ele permanece por menos tempo na atmosfera.

De qualquer forma, com esses dados em cima da mesa, os cientistas dizem que as emissões desse gás devem cair em um terço nos próximos 10 anos. O metano não é gerado apenas por combustíveis fósseis, mas também é liberado pela atividade de granadeiros (gado e ovino), à qual são adicionados aterros sanitários e fontes naturais.

Para atingir o aumento de 2°C na temperatura do planeta, as emissões desse gás devem cair 43% em 2030 e 84% em 2050. Segundo a cientista Diana Urge-Vorsatz, membro do painel do IPCC, “a redução de emissões para enfrentar a crise climática deve estar no nível observado durante a pandemia, mas ano após ano, algo que melhoraria nossa qualidade de vida sem a necessidade de uma crise global de saúde”.

3- O problema do CO2

Além das estimativas da liberação de dióxido de carbono na atmosfera, os especialistas não estimam uma queda drástica nas emissões de dióxido de carbono. É por isso que eles estão visando tecnologias que permitem a extração de CO2, que será medida em centenas de bilhões de toneladas. Nesse sentido, os cientistas apontaram no relatório que “a eliminação do dióxido de carbono (RDC) é necessária para atingir um nível zero de emissões de CO2 e gases de efeito estufa, tanto global quanto nacionalmente”.

Nesse ponto, os especialistas alertaram que esses mecanismos podem compensar as emissões residuais desse gás, especialmente nas atividades ou setores cuja limpeza é difícil. Algumas das medidas que os países podem implementar para atingir esse objetivo são: expandir florestas, melhorar as práticas agrícolas e aplicar tecnologias que capturam esse gás, seja das indústrias ou da atmosfera.

De qualquer forma, os cientistas apontaram que a aplicação dessas ferramentas não compensará totalmente a emissão desse gás pela humanidade, por isso ressaltaram a importância de almejar uma diminuição em sua geração.

4- Pecuária e dietas mais sustentáveis

A emissão de metano e dióxido de carbono também ocorre nas fazendas. A atividade pecuária e o desmatamento que acarreta a busca por mais espaço para o plantio são ações que contribuem para o aquecimento global, uma vez que não apenas as fontes de captura são eliminadas, mas também adicionadas como emissoras desse gás.

Neste ponto, o relatório indicou que “mudanças rápidas e profundas na demanda tornam mais fácil para todos os setores reduzir as emissões de gases de efeito estufa no curto e médio prazo”. Ao mesmo tempo, aponta para a aplicação de “dietas saudáveis e sustentáveis”, localizadas em alimentos vegetais com baixo impacto no meio ambiente e que, além disso, geram benefícios à saúde.

Como apontaram no documento, as nações mais ricas devem contribuir mais, pois gastam menos (2 a 5 vezes menos) em fazer uma mudança que contribua para a mitigação do aquecimento global. Neste ponto, os especialistas dizem que a dívida que essas nações devem à mitigação é entre 4 e 8 vezes menor que os 1,6 trilhões a 3,2 trilhões de dólares por ano que os países em desenvolvimento, que são os maiores responsáveis pela emissão de gases, devem investir.

5- Um mundo mais verde

As cidades não abrigam apenas pessoas, mas também indústrias, fábricas e transportes. É por isso que os especialistas buscam que eles se tornem espaços mais verdes e sustentáveis. A esse respeito, Jim Skea, co-presidente do grupo de trabalho do IPCC, disse: “Sem reduções imediatas e profundas nas emissões em todos os setores, será impossível”, pois os benefícios não são obtidos apenas com a redução do dióxido de carbono, mas também na temperatura da cidade e na qualidade do ar. Neste último ponto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) garantiu que 99% da população mundial respira ar de baixa qualidade e que há mais de 13 milhões de mortes por ano por causas ambientais evitáveis.

Um dos aspectos que os cientistas colocam sobre a mesa é a necessidade de os veículos abandonarem os combustíveis fósseis e se converterem em elétricos de baixa emissão, pois “oferecem o maior potencial de descarbonização para o transporte terrestre”. “Uma ação maior deve começar este ano, não no próximo ano, neste mês, não no próximo mês e, de fato, hoje, não amanhã”, disse Inger Andersen, Diretora Executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Outro aspecto que os especialistas enfatizaram o consumo responsável de energia tanto no transporte, com cidades mais compactas e caminháveis, quanto em casas sustentáveis. “A ação nesta década é fundamental para aproveitar o potencial de mitigação dos edifícios, com energia zero ou nenhuma carbono”, disse Jim Skea, co-presidente do Grupo de Trabalho III do IPCC.

Por fim, apontaram para o uso de materiais de construção mais eficientes, com reutilização e reciclagem, que, além disso, permitem uma redução no desperdício. Nesse ponto, eles se referiram aos materiais cuja fabricação não gera gases de efeito estufa, embora tenham esclarecido que ainda estão em fase de análise e aguardam aprovações para comercialização.

6- Os pontos positivos do relatório

Embora não tenha sido expressamente marcado pelos cientistas, a verdade é que esse relatório deixou alguns aspectos positivos. Eles enfatizaram que, embora as emissões ainda estejam aumentando, alertaram alguns esforços para mitigar o impacto do aquecimento global, como menores custos de produtos e geração de energias renováveis.

Entre 2010 e 2019, os preços na geração de energia solar caíram 85%, na energia eólica caíram 55% e nas baterias de lítio 85%. Enquanto durante 2015 e 2019, a capacidade de gerar energia eólica no mundo cresceu 70%, a energia solar fotovoltaica cresceu 170%. Com a qual a chamada energia limpa gerou 37% da eletricidade mundial em 2019.

Eles também observaram que o aumento da temperatura se estabilizará quando as emissões de gases de efeito estufa forem “zero líquido”. Isso quer dizer que os gases emitidos podem ser absorvidos pelo planeta. Eles ainda enfatizaram que os custos de mitigação das mudanças climáticas não devem afetar o banco mundial, já que os benefícios econômicos de conter o aquecimento, incluindo a saúde e os danos causados pelas mudanças climáticas, superam os custos.

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