Qual seria o impacto econômico das medidas tomadas pelo governo Pedro Castillo para deter a crise?

A economista Silvana Huanqui analisou os efeitos do aumento do salário mínimo e da isenção do CSI dos combustíveis.

Os cinco dias de trégua se passaram entre o governo de Pedro Castillo e os representantes da guildas de transportadoras e agricultores. A cessação dos protestos na parte central do país foi alcançada após acordos polêmicos, como o aumento do salário mínimo mínimo para S/ 1025.00 e a isenção do Imposto sobre Consumo Seletivo (CSI) sobre combustíveis por um período de tempo especificado. Nesse sentido, a economista e professora da Universidad del Pacífico, Silvana Huanqui, compartilhou sua análise com a Infobae Perú.

Os acordos implementados são a solução para a crise gerada pelo aumento dos preços?

O problema da inflação vem de fontes externas. As medidas aumentarão o poder de compra de uma população específica, mas é importante analisar a sustentabilidade. O salário mínimo foi aumentado, mas devemos levar em conta o aumento da produtividade, se as empresas não estiverem sendo cobradas o custo de recuperar esse poder de compra. Lembremos que a maioria das pessoas que ganham salário mínimo no setor formal são de médias e pequenas empresas. Se as empresas não suportarem esse aumento devido aos excessos de custos gerados, seriam gerados despedimentos ou vários trabalhadores entrariam em informalidade. É necessário analisar se o remédio é pior do que a própria doença. Os acordos alcançaram um título que parece bom, mas os efeitos poderiam ser muito piores.

Seria como uma dose muito curta de oxigênio?

Nem tenho certeza se funciona como oxigênio, será para algumas pessoas que se beneficiarão com a recuperação do poder de compra, mas quem arcar com o custo são empresas. Medidas como a isenção de combustível CSI devem ser vistas a longo prazo. Daqui a seis meses, esse imposto será cobrado novamente. A viabilidade disso acontecer em pouco tempo pode levar a novos movimentos sociais. É um fator na síndrome da miopia política em que tentamos sair do passo chutando problemas para o futuro, fazendo com que eles sejam piores. Pode não afetar apenas o próximo governo, mas este em alguns meses.

O que poderíamos esperar levando em consideração os antecedentes de outros governos e suas respostas às crises?

Muitas vezes, medidas temporárias foram tomadas de uma só vez. Por exemplo, o vínculo adotado durante a pandemia. Não foi recomendado porque era uma despesa muito pesada para as autoridades fiscais, mas em outros governos sempre houve fortes protestos e medidas também foram tomadas com altos custos. O aumento do salário mínimo aumentou sem atender aos critérios básicos e o resultado é uma informalidade próxima de 80 por cento. Pouco ou nada está sendo feito para trabalhar em direção a um mercado formal. A falha em lidar adequadamente com o diálogo está levando esse governo a tomar esse tipo de decisão. Os problemas devem ser tratados com uma aparência mais ampla, caso contrário, acabaremos com uma caixa fiscal bastante apertada.

A invasão russa da Ucrânia foi mencionada como uma das causas da crise. Quão verdadeira é essa afirmação repetida pelo presidente?

Definitivamente, não conseguimos tirar isso do mapa. Claramente, o aumento dos preços dos combustíveis se deve ao conflito. No entanto, nem todos os países viram um aumento tão grande na demanda social. O conflito nos surpreendeu quando o conflito social no Perú já estava à beira de um governo que já havia mostrado pouca eficiência em várias questões.

O presidente responderá no toque de recolher em Lima e Callao.

Você poderia descrever a conexão entre o aumento dos preços e o conflito na Ucrânia?

A Rússia é produtora de petróleo e quando suas fronteiras são fechadas acaba não exportando ou importando. O petróleo não está mais saindo, então há menos produção em todo o mundo. O preço do mercado de petróleo é impulsionado por um preço mundial e, à medida que há menos oferta, ele aumenta. Isso significa que nós, que somos importadores de petróleo, temos que comprá-lo a um preço mais caro, sendo este o principal insumo para quase todas as empresas. Esse aumento nos insumos é transferido para o preço final.

E no caso da comida?

Existem alimentos específicos, como milho, ou produtos como fertilizantes que vêm da Rússia. Na hora de gerar essa escassez global, os preços sobem porque há menos oferta. O problema se deve a duas fontes, em alguns casos por causa dos produtos importados pela Rússia e no nível generalizado pelo petróleo que acaba afetando os preços de todos os bens e serviços. É por isso que a inflação é generalizada em todos os produtos.

O que cabe a Pedro Castillo fazer para evitar que a crise continue afetando seu governo?

O presidente tem a obrigação de fazer mudanças estruturais, deve repensar a visão que tem como governo e ser mais enfático sobre para onde quer ir. Os objetivos e o caminho nunca foram claros e as decisões acabaram sendo ruins por causa da influência política em torno disso. O governo como está não é sustentável porque a falta de capacidade que está refletindo levará a maiores demandas e políticas mais míopes que podem pressionar o caixa fiscal, o que pode levar a uma crise econômica no médio prazo.

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