O retorno menos esperado. Aquele com o aumento dos preços. Não é uma ficção, mas uma realidade nas vitrines das lojas europeias. Gráfico de alguns jornais: Socorro, a inflação está de volta!
A invasão russa da Ucrânia conseguiu exacerbar os aumentos dos custos de combustível, eletricidade, gás e matérias-primas agrícolas, situações já exacerbadas pela escassez e impacto logístico ligado à pandemia. Com esse cenário, multiplicado em problemas, os protagonistas do consumo estão redescobrindo um problema que havia desaparecido décadas atrás.
Os aumentos de preços estão se generalizando: o IPC subiu para 9,8% em março na Espanha, o maior recorde desde 1985, 7,9% na Alemanha, o maior desde a reunificação em 1990 ou 4,7% na França, um número que não era lembrado desde a década de 1980.
Didier Boudy, presidente da Federação das Empresas de Padaria da França (FEB), e conforme reproduzido pelo jornal Le Parisien, brincou: “Em inglês, chamamos isso de 'uma tempestade perfeita', uma tempestade perfeita”. No mercado há vinte anos, aquele que também é responsável pela Mademoiselle Desserts, líder francesa em pastelaria congelada, explica que “nunca vi isso: em pouco tempo temos que almejar outro aumento que já foi superado”.
Na passada terça-feira, neste país que aguarda a primeira volta das eleições gerais de domingo, 40 federações que representam todas as formas de comércio, desde pequenas boutiques de moda a grandes hipermercados, assinaram uma carta aberta aos candidatos presidenciais franceses. “Diante da inflação, vamos ajudar as empresas comerciais a conter os custos de energia e transporte”, pergunta o texto, que está em alerta para a próxima subida de 4,2% no índice de preços de retalho previsto pelo INSEE.
Um primeiro vestígio. Sacos ou pacotes de muitos produtos se tornaram um dos símbolos da crise. Para muitas empresas, a estratégia de negócios para disfarçar o aumento de custos é reduzir o número de produtos. O fenômeno é chamado de “reduflação” ou em inglês “shrinkflation”, uma tática que, não só é vista nas compras, mas é explicada nos jornais, como valeu a pena na Espanha, um artigo no jornal El País. Para muitos, uma nova palavra, “reduflação” é colocar uma quantidade menos usual de produto em um recipiente para não alterar o preço de venda.
Com grande dificuldade e alguma perplexidade, os produtores de alimentos veem os preços mudando constantemente. Alguns explicam que a base de cálculo para o custo dos produtos terá que ser feita mensalmente. Para tudo isso, todo mundo está se organizando para os novos padrões inflacionários. Na França, como na Alemanha, muitos fabricantes estão considerando adaptar algumas de suas receitas, por exemplo, substituindo o óleo de girassol por óleo de colza.
Em todos os casos, uma diminuição na quantidade do produto ou alteração nas fórmulas de preparação, as autoridades, como a Direção-Geral de Concorrência, Consumo e Prevenção de Fraude da França ou o Ministério do Consumidor espanhol, alertam as obrigações relativas à transparência em relação a novos ingredientes, a presença de alérgenos ou outros, os obriga a comunicar claramente as mudanças. Mas também não é uma solução para os fabricantes: um novo peso, outra quantidade ou uma nova preparação significa um novo “contrato” com o consumidor. Isso requer uma nova embalagem, quando também o preço do papel, para fazer novas etiquetas, também disparou.
“Até a guerra na Ucrânia, pensávamos que o aumento de preços se achataria em cerca de 3% e depois diminuiria. Esse não é mais o caso”, explica Emily Mayer, diretora de Consumer Analytics. Em todos os estudos, e embora dependa da extensão da guerra na Ucrânia, as previsões inflacionárias serão estendidas, pelo menos, ao longo do primeiro semestre do ano.
Outro fenômeno é a queda, do que dizem na França, da premiumização. Ou seja, os consumidores se afastam das marcas líderes para buscar produtos da linha branca ou produtos de baixo custo.
Os supermercados estão tentando ficar à frente das mudanças dos consumidores. Marcas como Carrefour, Casino, Leclerc, Auchan, as grandes, apostam no hipermercado com ofertas e descontos. A questão é se os clientes se comportarão como durante a última inflação, em 2008. Só que faz muito tempo para acreditar que os mesmos hábitos se repetirão.
Naquela época, após a crise financeira, os super descontos Aldi, EuroSpin ou Lidl foram os que mais ganharam, convencendo com suas ofertas de ganhar participação de mercado. Essas marcas martelam o mercado com seus descontos e promoções. As medições, como faz a consultoria Kantar, confirmam essa tendência, mas também o retorno às grandes lojas: os hipermercados.
A tendência também é parar de comprar pouco e bom. O que é orgânico ou o que ele considera ser mais bem pago ao produtor, está estagnando. Para reter clientes, as marcas estão aprimorando as iniciativas anti-inflação. O Carrefour organiza mesas redondas com clientes franceses todas as quartas-feiras para descobrir quais produtos eles gostariam de ter em oferta.
Mas também é sobre os que faltam. O trigo é um problema. Óleo de girassol importado da Ucrânia também. Por sua vez, outra família de produtos, como o azeite, será escassa. E então temos que adicionar o impacto da gripe aviária. Na França, entre 7 e 8% das galinhas estão desaparecidas hoje, diz o Comitê Nacional para a Promoção de Ovos (CNPO). Se o preço dos ovos com casca permanecer contido, os ovoprodutos vendidos à indústria (na forma líquida ou em pó) “terão dobrado em um mês”, alerta.
A estratégia de grandes volumes está entre as possibilidades. Obtenha ações em face dos futuros toques de preços. Essa é fundamentalmente a estratégia dos supermercados de “baixo preço”. Um pacote de arroz de 20 kg pode ser 30% mais barato do que um pacote padrão de 500 gramas.
A lealdade, por meio de assinaturas mensais, ou seja, oferecer assinaturas a 10 euros por mês que abrem um desconto de 10% na conta final, é outra opção. Algo que era raro entre os europeus, agora é comum no caixa, pagando em 2 ou 3 pagamentos o bilhete final. Em 1, 2 ou 3 vezes?
Em “o que a inflação já causou nas prateleiras”, é preciso acrescentar que outras cadeias europeias oferecem 5% às famílias com baixos rendimentos. A Intermarche estabeleceu o limite em 850 euros por mês. Outros oferecem vouchers de 10 euros por cada 100 euros gastos.
Como alternativa, existem outros que alertam para a queda nos preços de certos produtos que estão próximos do vencimento. Alguns que reduzem a margem de certos produtos, um refrigerante ou combustível para 0, para atrair consumidores para suas lojas. Mesmo as autoridades, verificam se não estão abaixo do preço para gerar estratégias de negociação injustas.
Na França, houve uma disputa entre o governo e os supermercados Leclerc, sobre o preço da baguete. Até medir seu tamanho e confirmar que não está a um preço de dumping, chegou às primeiras páginas dos jornais.
“Os políticos criticaram os preços baixos e culparam o jogo pela concorrência. O retorno da inflação mostra a utilidade das lojas de desconto”, defendeu o responsável dos Centros Leclerc.
“Às segundas-feiras o governo pede que paguemos melhor aos agricultores, às terças-feiras pedem-nos para baixar o preço do material escolar e às quartas-feiras o preço da higiene feminina”, ironiza o filho do inventor do desconto à empresa francesa Leclerc, numa frase publicada no jornal Les Echos.
Tudo isso faz com que as táticas se multiplicem. Iniciativas para aumentar a fidelidade do cliente não terão limites. A questão dos preços baixos está voltando com força, enquanto os desfavorecidos deixaram os carrinhos de compras e já estão indo com as sacolas. Compre por unidade: 4 bananas, 3 maçãs, não é mais raro. Agora a preocupação é: Isso aconteceu por quanto tempo?
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