Você sempre pode ser maior...
Parece que esse não poderia ser o caso de Emanuel David Ginobili. Mas hoje se provou quando ele foi oficialmente anunciado como um dos cinco novos membros (ele é acompanhado pelos ex-jogadores Tim Hardaway e Swin Cash e ex-treinadores George Karl e Bob Huggins) do lendário Springfield Hall of Fame. Porque isso é muito grande, pelo que é, mas também por causa do simbólico. É, nada menos, do que um argentino ser reconhecido pela elite e dentro do país que governou o basquete desde seu nascimento, há 131 anos. Também é uma reafirmação de que esse argentino pertence à elite mundial desse esporte. É também um daqueles marcos que nos convidam, mais uma vez, a seguir uma carreira que teve muito mais do que títulos, anéis, prêmios, números e recordes, que nos obrigam a mergulhar em uma trajetória que o imortaliza como diferente, sem ser um dos melhores da história... Para pensar sobre por que e como ele fez isso. Para nós, para o esporte argentino, é mais um marco que o coloca no Olimpo dos Deuses, o que o confirma como um atleta único, ideal e sonhado, algo que também o torna, devido ao seu comportamento não poluído, um exemplo para o nosso país, um símbolo que podemos, sendo como ele, quantas vezes gostaríamos de ser e não ser como argentinos...
Mais um passo em direção à eternidade de um garoto que mal sonhava em ser alto - quando menino, ele teve dificuldade em crescer em altura até atingir o surto - e jogar, como seus irmãos, em nossa Liga Nacional. Que mais tarde, com o tempo, ele se empolgou com a Seleção Nacional - ele chegou ao Major apenas aos 21 anos - ou talvez jogar no exterior. Mas nunca tanto, nem perto, admitido por ele mesmo e seus entes queridos. Se MG venceu seu primeiro torneio aos 22 anos, na Itália... Se em Bahía Blanca, aos 15 anos, foi cortado por uma seleção de cadetes e foi para a descida com seu clube de bairro, o Bahiense del Norte, aos 17 anos, dor que suportou chorando, trancado em seu quarto por horas. Estamos falando de um menino que não nasceu predestinado a ser uma estrela mundial, como se tivesse acontecido com um LeBron, um Jordan, um Kobe, um Messi ou um Maradona. Manu, mais do que qualquer outra pessoa, foi construído como o que é hoje. E ele se tornou um Senhor dos Talentos porque alguns deles nasceram, é claro, mas a maioria, na realidade, ele os trabalhou com sua disciplina, profissionalismo, paixão e determinação, uma combinação que inspira e excita até mesmo aqueles que não seguem tanto o basquete.
Mas temos que voltar à informação, que diz que o baiano teve sucesso em seu primeiro ano de seleção — três anos têm que se passar desde sua aposentadoria. Existem figuras na história que nunca conseguem. Na verdade, ele é apenas o terceiro jogador sul-americano - atrás dos brasileiros Oscar Schmidt e Ubiratan Pereira - e o primeiro latino de língua espanhola a entrar neste lugar que imortaliza. E outros levam anos: por exemplo, nesta edição, Rip Hamilton, Chauncey Billups e Michael Finley ficaram de fora, com pergaminhos importantes. Manu teve sucesso em sua primeira candidatura. Algo que raramente acontece, exceto nos casos em que sua chegada é praticamente unânime, como aconteceu com o baiano.
A dificuldade em alcançar privilégios é importante porque você precisa passar por três filtros. De fato, votos de vários comitês compostos por especialistas. Primeiro eles te nomeiam, como aconteceu em dezembro passado, com ele e outros 48 candidatos. Depois, há o Comitê de Honras, que decide os finalistas. Dezoito dos 24 votos dos especialistas que o compõem são necessários. O MG20 passou, em fevereiro, quando 10 dos 49 foram eleitos a priori. E agora foi a vez do Conselho de Administração chamado Conselho de Administração, que é composto por pessoas já incluídas no HOF, jornalistas e especialistas. Novamente ele teve que ter pelo menos 18 (de 24) votos. E novamente ele passou o corte confortavelmente, disse uma fonte importante à Infobae. Os membros foram obrigados a revisar cada finalista, seus méritos, ações ou declarações. Se algo disso foi considerado como tendo danificado a imagem ou a integridade do jogo, com atitudes imorais, éticas ou mesmo problemas com a justiça, ele poderia ser removido da lista. Mesmo que fosse um crack...
Claro, com um comportamento imaculado, nada disso poderia acontecer com Manu. Pelo contrário, foi muito bom para eles levarem isso em consideração. E, além disso, seu currículo foi deixado de lado... Porque você tem que saber que, apesar de estar nos Estados Unidos, o Hall da Fama do basquete analisa todos os méritos, não apenas os daquele país, na NBA ou na NCAA, por caso. A épica carreira de Ginobili na NBA, com quatro anéis, duas seleções All Star, um quase MVP, um prêmio de Melhor Sexto Homem e a melhor porcentagem de vitórias em estágio regular da história, ajudou muito, mas não foi a única coisa que foi levada em consideração. Os feitos com nossa Seleção Nacional, tendo sido a estrela da seleção nacional que permaneceu no topo por mais de uma década, com duas medalhas olímpicas - ouro e bronze - e um vice-campeão mundial, entre outros resultados, e o que foi alcançado na Europa - quatro títulos, incluindo a Euroliga, e quatro MVPs - também aprofundou o caso dele. O mesmo que a marca que deixou de seus valores e comportamento - nunca uma briga com um DT, um companheiro de equipe, um rival ou um árbitro, ausência absoluta de controvérsia por 20 anos - o movimento que ele patenteou e a maneira como ele inspirou outros atletas ao aceitar ser um substituto - para o bem da equipe - quando ele era um superstar de a competição.
Esta é uma escolha cantada, porque Manu era conhecida por ter grandes chances e, além disso, porque ela foi avançada por um jornalista dos EUA na quinta-feira, mas isso não tira emoção ou importância. Também houve muitos que acreditavam que ele deveria estar entre os 75 melhores jogadores da história que a NBA escolheu em outubro para comemorar seu 75º aniversário, e mesmo assim ele não estava. Ele estava à beira, provavelmente, mas não estava lá. Não foi um disparate, nem foi ele o único que ficou de fora de forma controversa. Vince Carter, Klay Thompson, Ben Wallace, Tony Parker, Pau Gasol, Chris Bosh, Dwight Howard e Tracy McGrady, entre outros, mereceram estar no seleto grupo e não foram incluídos. Para Manu é vingança porque, genuinamente, ele não está desesperado por prêmios, como nunca esteve, quando era jogador. Mas ele esperava isso - muito mais do que estar entre 75, algo que ele disse que não achava que deveria estar - e sabia que suas chances eram maiores. Isso é para a eternidade.
Coisas do destino, Manu entrará no HOF com outra ex-figura da NBA e é, coincidentemente, quem o cativará com seu jogo quando adolescente na Bahia. Este é Tim Hardaway, o rei do crossover, aquela mudança de direção que os jogadores fazem quando penetram no aro. Manu ficou cativado por seu estilo ao ver aquele time do Warriors e o famoso RUN TMC, um trio super ofensivo que o armador formou com Chris Mullin e Mitch Richmond desde 1989 e 1991, assim que MG começou a assistir NBA em sua casa em Vergara 14 na Bahia. Um tridente letal que teve uma média de cerca de 70 pontos por jogo e ganhou o apelido para as primeiras letras dos nomes, que eram iguais a um famoso grupo de rap dos anos 80. Hoje o filho é mais conhecido, que está na NBA, mas o verdadeiro bom foi o pai. Uma das bases mais criativas e cativantes para se ver na história. Cinco vezes All Star e cinco vezes All NBA Team - uma vez que ele estava no primeiro, o quinteto ideal -, aquele pequeno tanque que parecia sempre jogar em um paddock se aposentou após 15 temporadas com médias de 17,7 pontos e 8,2 assistências.
Após este anúncio oficial, durante a Final 4 da NCAA que acontece em Nova Orleans e cujo campeão nos encontraremos nesta segunda-feira, a entronização é agora em setembro, durante uma cerimônia que acontecerá de 9 a 10 em Springfield, Massachusetts, com ingressos à venda em um futuro próximo. Por enquanto, é um fato: o basquete Valhalla tem um novo membro: Emanuel David Ginobili. E ele é argentino. Nada mais e nada menos. Aplausos, senhoras e senhores.
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