Um pesadelo chamado sargaço

As algas que chegam às praias brancas do Caribe são motivo de preocupação para as pessoas e os governos. Afetando ecossistemas e sistemas produtivos, alguns especialistas afirmam a necessidade de implementar soluções globais que realmente ajudem a conter sua proliferação

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Los turistas juegan en las olas entre el sargazo en una playa de Cancún, México. 30 mayo 2021. REUTERS/Paola Chiomante. NO REVENTAS NI ARCHIVOS.
Los turistas juegan en las olas entre el sargazo en una playa de Cancún, México. 30 mayo 2021. REUTERS/Paola Chiomante. NO REVENTAS NI ARCHIVOS.

Quando as águas cristalinas do Mar do Caribe ficam avermelhadas, os banhistas saem correndo e movem suas toalhas e guarda-sóis para outro lugar na praia. Isso acontece toda vez que o sargaço chega a San Andrés, porque todo revés é um obstáculo ao turismo. Para o banhista ousado, no final, a experiência não é das mais agradáveis. Nadar entre essas algas e fingir ir à superfície é como tirar uma colher de uma sopa bem grossa. Sargassum é material vegetal, fica emaranhado no cabelo e fica preso entre suas redes. Mas o que costumava ser uma experiência que acontecia em determinadas épocas do ano está se tornando cada vez mais frequente, não apenas na ilha de San Andrés, mas em outros destinos paradisíacos como Cancún, Jamaica e Índias Ocidentais. O motivo que preocupa muitos são seus efeitos na vida das pessoas e no meio ambiente.

Sargassum é um tipo de alga que pode ter vários metros de comprimento e, embora sempre tenha existido e também desempenhe funções importantes nos ecossistemas, em abundância, só pode criar o efeito oposto. Assim, embora alguns cientistas tenham apontado que ele atua como um berçário para animais invertebrados e peixes, sua presença voltou a ser motivo de preocupação. Para algumas autoridades ambientais, o sargaço é um problema real porque chega em número crescente e, pelo menos, em Quintana Roo (México), sua chegada é tão lamentável que existe a Rede de Monitoramento de Sargassum, que já anunciou que, dada a chamada que foi apresentada em Honduras e a temporada de primavera que eleva a temperatura do mar e acelera sua reprodução, na próxima semana o sargaço estará nas praias mexicanas.

Essa proliferação, nas palavras de Jorge Sánchez, sócio fundador da Fundação Help 2 Oceans, não é apenas alarmante pela quantidade de espaço que essas algas ocupam na praia, mas porque sua presença na água “consome grandes volumes de oxigênio e afeta a vida marinha”. Mas a causa tem um motivo para ser. Sanchez, em diálogo com a Infobae, também destacou que isso se deve aos altos volumes de “substâncias poluentes que fluem para o mar como resultado da agricultura em massa perto da costa leste dos Estados Unidos”.

A situação é tão alarmante que um estudo realizado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), publicado no âmbito da XXV Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, anunciou que o oxigênio havia caído 2% entre 1960 e 2010. Isso implica que, ao flutuar em águas azul-turquesa onde se encontram ervas marinhas e recifes de coral, a luz solar para de entrar, impedindo a fotossíntese e a vida de outras espécies que também precisam de oxigênio.

Um dos momentos mais críticos que o setor de turismo experimentou em Quintana Roo (México), foi a chegada do sargaço em 2018. De acordo com o The New York Times em espanhol, durante o primeiro semestre deste ano, o aeroporto de Cancún registrou uma queda no crescimento do fluxo de passageiros e apenas na limpeza de praias, o governo mexicano gastou 312 milhões de pesos. Das 4,6 milhões de toneladas que chegaram à praia na região do Caribe e no Golfo do México, mais de 10 milhões de toneladas começaram a chegar, segundo dados da University of South Florida e da NASA, o que afeta não apenas o meio ambiente, mas também a estética das praias e o conforto de quem mora perto.

Em parte, isso tem a ver com os cheiros e a decomposição do sargaço na praia, porque quando essas algas se decompõem, liberam gases como ácido sulfúrico ou metais pesados, que podem afetar as pessoas que estão lá. Nesse sentido, especialistas como Sánchez, pedem às autoridades ambientais que deixem o “calor” nesses assuntos e comecem a apresentar soluções sustentáveis onde as algas podem se tornar matéria-prima para atividades comerciais.

No entanto, muitos especialistas concordam que, embora as implementações locais destinadas a fazer uso dessas algas devam ser consideradas, como é feito, por exemplo, na Jamaica, onde eles usam sargassum como ração para cabras, a verdade é que soluções para um problema que não é menor e que atinge as praias com marés do Caribe sem distinguir fronteiras, devem ser vistas como o que elas realmente são: um problema inteiramente global.

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