O jornal independente russo Novaya Gazeta suspendeu suas publicações devido à pressão do Kremlin

A mídia foi uma das últimas mídias a resistir à censura estatal na Rússia. Ele recebeu um primeiro aviso em 22 de março e um segundo na segunda-feira

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El editor jefe del diario
El editor jefe del diario Novaya Gazeta, Dmitry Muratov, uno de los ganadores del Nobel de la Paz, conversa con periodistas en Moscú, Rusia, 8 octubre 2021. REUTERS/Maxim Shemetov

O diário independente russo Novaya Gazeta anunciou na segunda-feira a suspensão de suas publicações on-line e em papel até o final da operação militar russa na Ucrânia, em um contexto de pressão do poder sobre vozes críticas a ela.

Em comunicado publicado em seu site, o jornal — cujo editor-chefe, Dmitri Muratov, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2021 — indicou que havia tomado essa decisão depois de receber um segundo aviso do regulador russo de telecomunicações por violar uma lei sobre “agentes do exterior”.

“Não há outra solução. Para nós e, eu sei, para você, é uma decisão terrível e dolorosa. Mas temos que proteger uns aos outros”, escreveu Muratov em uma carta aos leitores do jornal.

Especificamente, a Novaya Gazeta é censurada por não especificar que uma ONG mencionada em um de seus artigos foi classificada como “agente do exterior” pelas autoridades russas, conforme exigido por lei.

O jornal recebeu um primeiro aviso em 22 de março e um segundo na segunda-feira.

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Imagem ilustrativa de jornais russos

Desde o início da operação militar em 24 de fevereiro, os sites de vários meios de comunicação russos ou estrangeiros foram bloqueados. Novaya Gazeta foi um dos últimos jornais independentes ainda ativos na Rússia.

As autoridades votaram em várias leis que punem com prisão o que consideram ser “informações falsas” sobre o conflito na Ucrânia.

Outra medida usada pelas autoridades contra organizações ou indivíduos críticos do Kremlin é a lei sobre “agentes estrangeiros”. Aqueles que são qualificados como “agentes do exterior” devem ser apresentados como tal em qualquer publicação, incluindo mídias sociais. A mídia que os menciona também deve especificar isso.

Fundada em 1993, a Novaya Gazeta goza de grande reputação por investigar corrupção e abusos dos direitos humanos na Chechênia. Esse compromisso custou a vida de seis de seus funcionários, incluindo a famosa jornalista Anna Politkovskaya, que foi assassinada em 2006.

FUNDO

No início do mês, o Tribunal de Estrasburgo adotou medidas cautelares a pedido do jornal independente de Moscou “Novaya Gazeta” e exigiu que a Rússia não a privasse da liberdade de expressão garantida pela Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

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Frente à sede do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (CEDH), com sede em Estrasburgo (França). EFE/Michel Christen/Arquivo

Nos termos do artigo 39 do seu Regulamento Interno, o judiciário europeu convida as autoridades russas a “abster-se de qualquer ação e decisão que obstrua completamente e ponha termo às atividades” deste meio.

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos levou em consideração o contexto excepcional em que a queixa foi apresentada, após a adoção na semana passada de uma reforma do Código Penal russo para punir o que é considerado “informação falsa” relacionada à invasão da Ucrânia com sentenças de até 15 anos em prisão.

O pedido de medidas cautelares foi apresentado em 3 de março pelas empresas Novaya Gazeta e pela empresa de televisão Telekanal Dozhd (Rain TV), e pelos cidadãos russos Dmitri Muratov e Natalia Sindéyeva. Muratov é o editor do jornal e recebeu em 2021 o Prêmio Nobel da Paz, que dedicou à sua mídia e aos seus seis jornalistas e colaboradores mortos desde 2000, incluindo Politkovskaya.

O tribunal europeu foi solicitado a implorar ao governo russo para não interferir nas atividades legais da mídia russa relacionadas ao conflito armado na Ucrânia. Em particular, que o Governo se abstenha de “bloquear itens de informação e materiais contendo opiniões que diferem do ponto de vista oficial das autoridades russas”.

O Tribunal de Estrasburgo justifica as suas medidas cautelares pelo “risco iminente de danos irreparáveis à liberdade de expressão e ao silenciamento dos meios de comunicação independentes na Rússia”.

(com informações da AFP e da EFE)

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