Mais de 30 milhões de pessoas foram deslocadas pelas mudanças climáticas: o aquecimento global pode ser interrompido?

Faltam alguns décimos para atingir a meta estabelecida para 2030 e especialistas alertam para uma possível “catástrofe climática”

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A city showing the effect of Climate Change
A city showing the effect of Climate Change

“Estamos sonâmbulos em direção à catástrofe climática e não podemos apontar o dedo um para o outro enquanto o planeta queima”, disse António Guterres. As palavras do Secretário-Geral das Nações Unidas são o prelúdio do relatório que será emitido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em 4 de abril.

Neste documento, especialistas indicarão quais compromissos os países terão que assumir para conter o aquecimento global e suas consequências, o que já levou mais de 30 milhões de pessoas em todo o mundo a terem que deixar suas casas para se mudarem para outras áreas.

A meta já havia sido traçada, até 2030 a temperatura do planeta não poderia subir mais de 1,5º Celsius. É por isso que há uma forte pressão para mudar a matriz energética global e abandonar os combustíveis fósseis em favor da energia renovável. “Os países poderiam ser tão consumidos pela insuficiência imediata do fornecimento de combustíveis fósseis que podem negligenciar ou negligenciar políticas para reduzir o uso de combustíveis fósseis”, alertou Guterres durante a Cúpula de Sustentabilidade Econômica organizada pela revista The Economist.

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“O vício em combustíveis fósseis garante a destruição mútua”, alertou a manchete da ONU

“O vício em combustíveis fósseis garante a destruição mútua”, alertou a manchete da ONU. Embora observe que “em vez de pisar no freio na descarbonização da economia global, agora é a hora de pisar no acelerador profundamente em um futuro de energia renovável”. “É assim que podemos resgatar a meta de 1,5ºC da unidade de terapia intensiva para a sala de recuperação”, observou Guterres, observando que atingir essa meta “requer uma redução de 45% nas emissões globais até 2030 e neutralidade de carbono em meados do século”.

Os pontos em que o incumbente da ONU se concentra foram acordados durante a Cúpula sobre Mudanças Climáticas da COP26, realizada no final de 2021 em Glasgow, Escócia. De acordo com os especialistas, apesar do exposto, não houve compromisso real por parte dos países participantes. “Estamos sonâmbulos em direção à catástrofe climática. Nosso planeta já aqueceu até 1,2 grau e vemos as consequências devastadoras disso em todos os lugares”, disse Guterres.

O relatório emitido há duas semanas pelo IPCC observou que metade da população mundial vive em áreas classificadas como em risco de desastres climáticos. Mesmo devido a esses mesmos fenômenos, eles estimam que quase 30 milhões de pessoas foram deslocadas. Por esse motivo, o chefe da ONU procurou apontar a importância de todas as nações, independentemente de estarem emergindo ou desenvolvidas, cumprir o limite acordado: “Não podemos apontar os dedos um para o outro enquanto o planeta está queimando”.

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“Estamos sonâmbulos em direção à catástrofe climática. Nosso planeta já aqueceu até 1,2 grau e vemos as consequências devastadoras disso em todos os lugares”, disse Guterres. (Getty)

O clima em um “ponto de virada”

Em 4 de abril, o Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) publicará o relatório onde traçará uma série de chaves para mitigar o aquecimento global. É que a meta de 1,5 °C está se aproximando cada vez mais, assim como o prazo: 2030. Não só os especialistas estarão presentes para a entrega deste documento, mas também os líderes mundiais terão que se juntar, que terão que assiná-lo e aprová-lo.

Os dois primeiros relatórios detalharam as causas que levaram o mundo a essa realidade, onde os fenômenos naturais são cada vez mais extremos. Com esse cenário, é a própria natureza que se apresenta como uma das maiores ameaças que a humanidade e todas as espécies do planeta terão que enfrentar.

No primeiro documento divulgado em agosto passado, especialistas alertaram que o clima está em um ponto de virada. Já com o aumento de 1,5° C, eles garantiram que haverá mais ondas de calor, as estações quentes serão mais longas enquanto as frias serão reduzidas. Quando o planeta atinge um aumento de temperatura de 2° C, as ondas de calor atingirão com mais frequência os limites de tolerância para a humanidade e para a agricultura.

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Já com o aumento de 1,5° C, os especialistas garantiram que haverá mais ondas de calor, as estações quentes serão mais longas enquanto as frias serão reduzidas (Getty)

Por outro lado, na segunda parte do relatório, divulgado no mês passado, especialistas disseram que se o aquecimento global não se limitar a apenas alguns décimos acima de 1ºC, o mundo não sofrerá apenas com ondas de calor, mas que mais incêndios, inundações e secas também serão adicionados. Além disso, eles apontaram que o planeta se degradará de 127 maneiras diferentes nas próximas décadas e que algumas serão “potencialmente irreversíveis”.

Eles também enfatizaram que os últimos 4 foram os anos mais quentes já registrados, desde a pré-industrialização. Nesse sentido, especialistas alertaram para um “futuro sombrio” para a humanidade e todos os ecossistemas, já que quase metade da população mundial é “altamente vulnerável” a essa situação.

“As evidências científicas acumuladas são inequívocas: as alterações climáticas são uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde planetária”, alertaram os 270 cientistas de 67 países que avaliaram a evolução do aquecimento global para a ONU. Como apontaram, “algumas perdas já são irreversíveis”, no caso das primeiras extinções de espécies, enquanto outras “aproximam a irreversibilidade”, como o recuo das geleiras e a perda do permafrost (solos permanentemente congelados nas regiões árticas).

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“A mudança climática é uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde planetária”, alertaram especialistas do IPCC (Getty)

Os pontos críticos globais de alta vulnerabilidade humana são particularmente encontrados na África Ocidental, Central e Oriental, Sul da Ásia, América Central e do Sul, Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento e no Ártico”, enumeraram os especialistas e alertaram que “entre 2010 e 2020, inundações, secas e as tempestades foram 15 vezes maiores em regiões altamente vulneráveis em comparação com regiões com vulnerabilidade muito baixa”.

O aquecimento global pode ser interrompido?

O último relatório, que será lançado em 4 de abril, fornecerá diretrizes sobre como o aquecimento global pode ser interrompido ou mitigado. Já que, de acordo com especialistas do IPCC, se os países respeitarem os compromissos atuais, a temperatura do planeta aumentará 2,7ºC e será “catastrófica”. Já com um aumento de 1,5°C, entre 3% e 14% das espécies terrestres analisadas estarão em risco muito alto de extinção. Quando atinge 3ºC, esse risco dobra e a 5ºC triplica.

Eles também alertaram que o aquecimento global reduzirá a disponibilidade de água doce, já que a 4ºC a perda normal acelerará e se multiplicará por dois. “No sul da Europa, mais de um terço da população estará exposta à escassez de água se atingir 2 graus”, alertaram o IPCC, observando que, à medida que a temperatura aumenta, haverá mais “perdas econômicas significativas nos setores dependentes de água e energia”.

Em contraste, os danos causados pelas inundações aumentarão, o que quase quadruplicará se a temperatura do planeta subir 3ºC.

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Especialistas alertaram que o aumento do aquecimento global causará um aumento nos danos causados pelas inundações, que quase quadruplicarão se a temperatura do planeta subir 3ºC. REUTERS/Yves Herman

Diante desse futuro sombrio, os especialistas liderarão o caminho para que os países acelerem as ações de mitigação das mudanças climáticas. Como aconteceu, será dividido em setores, como agricultura, energia e transportes, por exemplo. Estima-se até que eles façam contribuições tecnológicas para que as nações possam aplicar ferramentas para capturar e armazenar carbono.

Alerta precoce: uma resposta que salva vidas a desastres naturais

Alguns especialistas acreditam que este relatório enfatizará a implementação de um sistema global de alerta precoce para desastres naturais, como ondas de calor e secas, inundações e incêndios, bem como outros fatores climáticos que podem tirar vidas humanas.

A ONU, juntamente com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), anunciou o lançamento de uma rede global de alertas precoces para eventos climáticos extremos, que deve dar seus primeiros frutos em cerca de cinco anos, já que atualmente um terço da população mundial não possui esses sistemas e o objetivo é que 100 por cento da humanidade seja protegida. Além disso, dentro dessa estratégia, uma espécie de guia será adicionada à implementação de planos de resposta para minimizar os impactos.

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