O Presidente da República, Pedro Castillo, está a poucas horas de enfrentar uma possível vaga presidencial. Oito meses depois de assumir a presidência, foram testemunhados vários confrontos entre o Executivo e o Legislativo, eventos que, além de alegados casos de corrupção, fizeram com que esta crise política parecesse interminável.
“Essa crise política não termina porque não há grau de sentimento ou pacto político de convivência que poderia ter sido discutido ou articulado por Pedro Castillo. Venceu as eleições em meio a muita polêmica, ainda que de forma legal e constitucional. O Governo nunca conseguiu uma maioria própria, nunca alcançou força política, essa instabilidade é a que se acentuou, porque um setor do Congresso se aproxima da vacância, mas não o fez há alguns meses”, disse o analista político e jornalista Pedro Tenório.
Para Daniel Ku-Hop, analista político, ainda estamos nessa crise, porque o país tem falta de desenvolvimento institucional e um sistema partidário precário.
“Há uma falta de desenvolvimento institucional que não é tão sólido quanto poderia ser, pode ter efeitos negativos como a óbvia falta de um sistema partidário precário e a impossibilidade de ter uma política decente no país”, disse.
Além disso, Tenório destaca a presença de figuras políticas que têm entrado e saído de seu governo, como a do Secretário-Geral do Perú Livre, Vladimir Cerrón e ex-candidato presidencial, Verónika Mendoza.
“Vladimir Cerrón é um bloco que permanece, mas no caso de Verónika Mendoza, teve personagens que entraram e saíram do governo de Castillo, esses altos e baixos fizeram com que uma parte da esquerda apoiasse o presidente”, acrescentou.
RAMO EXECUTIVO VS. PODER LEGISLATIVO
Desde que Pedro Castillo foi empossado como presidente, tem havido constantes discussões e confrontos entre os dois poderes do país, no entanto, Ku-Hop e Tenorio concordam que essas discussões não ocorreram desde que o presidente entrou na presidência, mas desde governos anteriores historicamente.
“Historicamente, eles sempre foram instituições contrárias, ambos têm papéis de supervisão e ambos são de natureza política, então eles se enfrentam, e é um bom negócio antagonizar o Legislativo”, disse Daniel Ku-Hop.
“Esses são dois ramos do governo que estão constantemente em desacordo, mas são discussões que precisam ser tratadas politicamente e civilizadas”, acrescentou Tenório.
Em relação à imagem do Congresso da República, na última pesquisa da CPI, ele disse que a reprovação chega a 76,7%, enquanto 16,1% concordam. 7,2% não saber ou pensar. Este Congresso é visto como “um dos piores”, mas Pedro Tenório acredita que acabou de começar, mas que “é daqueles que teve um ataque pior, ainda tem um longo caminho a percorrer”.
“O pior Congresso que já tivemos foi na época do fujimorismo, não havia poder independente, a maioria em todos os sentidos era de Fujimori, as ordens do Palácio foram dadas diretamente por ele, e tudo foi aconselhado por Vladimiro Montesinos”, comentou.
Para Daniel Ku-Hop, este Congresso tem um nível de aprovação semelhante aos anteriores. “Este Congresso é bastante representativo na sociedade peruana. Não é necessariamente uma das piores, tem outras tendências que são mais negativas como leis declaradas que foram apresentadas no curto período que têm”, continuou.
VAGA PRESIDENCIAL
Alguns dias atrás, eles aprovaram a moção de vaga por incapacidade moral contra o presidente, que será debatida à tarde. Esse conceito de incapacidade moral é amplamente utilizado hoje, mas Pedro Tenório mencionou que não há impeachment no Perú e acrescentou que não há reforma constitucional descrevendo o incapacidade moral.
“Hoje em dia é interpretado como um assunto de corrupção. No Perú, não há julgamento político do presidente na ausência de tal mecanismo, a vaga presidencial é usada por incapacidade moral, é um processo que foi desenvolvido enfaticamente”, disse.
Além disso, ele enfatiza que, para que um político seja investigado, seu governo deve ser rescindido. “Temos que esperar que essa pessoa deponha e aí se dá o impeachment, que não existe na política peruana, basta que a maioria pense que é imoral”, acrescentou.
Por sua parte, Ku-Hop comentou que acha que é uma vaga inconveniente e improvável. “O presidente é incapaz de lidar com tudo e com um interesse que é evidente para o Estado, é prejudicial para o Perú que ele saia e todo o processo de demissão seja feito, mas cabe a Castillo se é a única saída”, disse.
Uma solução que o jornalista também dá é que o presidente deve criar alianças com os partidos do Congresso, ou seja, criar “anéis internos” para evitar ser invadido.
“Ele tem que criar alianças com outros partidos, assim como Alan García fez, ele não tinha maioria no Congresso, mas conseguiu apoio do fujimorismo na época, há partidos de centro com os quais ele foi capaz de criá-los”, disse.
IMAGEM QUE REFLETE DINA BOLUARTE COMO POSSÍVEL PRESIDENTE
Se a vaga presidencial fosse concedida, a Vice-Presidente da República e Ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social, Dina Boluarte, uma pessoa que segundo Pedro Tenório, tem a imagem de ser mais independente e lidar “com as pessoas que conhece no ministério”.
“Se Dina Boluarte assumir a presidência, as pessoas vão querer tirá-la de lá porque 'faz parte da mesma coisa'. Ela é uma pessoa muito mais independente tanto em suas atitudes, em seus seguidores quanto em seu relacionamento com as pessoas que trabalham no ministério, são pessoas que estão presentes em sua vida profissional”, disse.
Lembremos que há alguns meses, o secretário-geral do Perú Libre, Vladimir Cerrón expulsou Boluarte do partido por declarando que não abraçou a ideologia daquele partido, ele fez isso através de sua conta oficial no Twitter. Se ela assumisse a presidência caso fossem alcançados os votos para a vaga de Pedro Castillo, Tenório confirma que seu Governo seria seu e de reconstrução nacional.
“Ele mal faz uma declaração, eles tiram no Twitter ou fazem um processo disciplinar. Se ela assumir a presidência, tentaria fazer um Governo de reconstrução nacional e com a participação de outros setores”, concluiu.
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