Libertar o ex-presidente peruano Fujimori é um “revés inaceitável”, dizem especialistas da ONU

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A iminente libertação do octogenário ex-presidente peruano Alberto Fujimori, depois de reintegrá-lo com um perdão presidencial, é um “revés inaceitável” na luta contra a impunidade por graves violações de direitos humanos cometidas durante sua administração, disse um grupo de especialistas da ONU nesta terça-feira.

O Tribunal Constitucional (TC) declarou habeas corpus fundado na última quinta-feira e restabeleceu o perdão concedido a Fujimori em dezembro de 2017 e anulado pela justiça peruana 10 meses depois.

Essa decisão “parece ser inconsistente com os padrões internacionais de direitos humanos que restringem o uso do perdão em casos envolvendo crimes contra a humanidade”, disseram especialistas em direitos humanos em um comunicado divulgado em Genebra.

Eles lembraram que o perdão concedido na véspera de Natal daquele ano pelo então presidente Pedro Pablo Kuczynski por motivos humanitários havia sido considerado incompatível com os requisitos legais.

“A menos que justificado por razões claramente aceitáveis sob o direito interno e internacional”, anular a sentença de 25 anos de Fujimori seria “um duro golpe para a justiça e o Estado de direito”, disse o grupo de especialistas, composto por Fabian Salvioli, Morris Tidball Binz, Luciano Hazan, Aua Baldé, Tae-Ung Baik, Gabriella Citroni e Henrikas Mickevičius.

Também “viola o direito à justiça das vítimas e de suas famílias”, acrescentaram.

“Vítimas de violações de direitos humanos há muito esperam que a justiça seja cumprida, e essa decisão representa um revés doloroso para elas”, acrescentaram.

Fujimori, de 83 anos, sofre de fibrilação atrial, fibrose pulmonar e hipertensão, segundo seu médico.

“Humanitariamente, Alberto Fujimori não merece morrer na prisão”, disse seu médico de família e parlamentar de mentalidade semelhante Alejandro Aguinaga.

Preso em 2007, Fujimori já cumpriu 15 de sua pena de 25 anos de prisão pelos massacres de Barrios Altos (15 mortos, incluindo uma criança) e La Cantuta (10 mortos), perpetrados por esquadrões militares durante sua administração (1990-2000) no contexto da guerra contra o terror.

Para que ele saia da prisão que ocupa em uma base policial em Lima, o TC deve notificar o serviço prisional, procedimento que ainda não foi concluído.

A decisão do TC, que é final, provocou manifestações nas ruas de Lima a favor e contra o perdão.

cm/ljc/como

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