Desconfiança e irregularidades na contagem atrasam a conformação do Senado colombiano

O país enfrenta uma das mais graves crises de confiança das últimas décadas no que diz respeito aos resultados das eleições legislativas, quando ainda falta a eleição presidencial.

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Em 13 de março, as eleições legislativas foram realizadas na Colômbia para eleger os membros do Congresso da República para o período 2022-2026, o que mudou a distribuição das forças políticas no Capitólio; mas cujos resultados foram questionados por inúmeros grupos, partidos e líderes políticos, levando a uma uma situação sem precedentes no país e possivelmente ilegal: realizar uma recontagem geral dos votos.

O Congresso na Colômbia é bicameral, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado da República, também considerados as câmaras baixa e alta, respectivamente. O primeiro é composto por 162 congressistas eleitos localmente em cada departamento e o segundo por 102 senadores eleitos nacionalmente.

A estes devem ser acrescentados cinco membros em cada câmara designados ao partido dos Comuns para o acordo de paz do Teatro Colón, 16 representantes das vítimas na câmara baixa pelo mesmo acordo, e um assento adicional atribuído ao segundo mais votado nas eleições presidenciais e vice-presidenciais, respectivamente, em 29 de maio ou, no caso de um segundo turno, para o perdedor desta rodada eleitoral.

Quando as urnas fecharam, às 16h do dia da votação, os júris eleitorais, que são cidadãos eleitos por sorteio, nas 112.900 assembleias de voto instaladas em todo o país, tiveram que contar os votos nas urnas e relatá-los para obter uma primeira informação sobre os resultados.

Infobae

Os júris devem preencher um formulário chamado E-14 três vezes, um para os claveros, um para os delegados departamentais do Registro Nacional do Estado Civil (a autoridade eleitoral) e outro que é finalmente enviado para relatar o resultado para que as informações possam ser transmitidas publicamente. Todos os três têm as mesmas informações e são puramente informativos.

Naquela noite, tarde porque os júris contaram pela última vez os votos do Senado, surgiram alguns primeiros resultados que mostraram que o Pacto Histórico, a coalizão dos partidos de esquerda e oposição liderada por Gustavo Petro, foi a lista mais votada.

Com 99,41% das mesas informadas, o Senado na Colômbia seria composto pelo Pacto Histórico e pelo Partido Conservador com 16 assentos cada, 15 assentos do Partido Liberal, 14 do Centro de Coalizão da Aliança Verde Esperanza e 14 do Centro Democrático; 11 assentos para o partido Mudança Radical, 10 do partido da União para o Povo (Partido dos EUA) e da Coalizão Justa Libres de Mira e Colômbia com 4 espaços.

Este foi o resultado conhecido após o primeiro escrutínio, que é conhecido como pré-contagem e que não tem validade legal para a formação do Congresso, mas serve para construir confiança entre o eleitorado e os partidos sobre o processo eleitoral público.

Mas desta vez não foi assim. Esses resultados são reportados às comissões de contagem, que são compostas pelos juízes da República, que devem receber os votos expressos nas urnas e os registros de contagem, a fim de verificar os dados e fazer uma nova contagem que é a que define quantos assentos cada partido e grupo recebe, chamado de contagem e que, após uma certificação do Conselho Nacional Eleitoral, se torna o resultado oficial.

Contagem de votos na Colômbia (Colprensa -Sergio Acero)
Contagem de votos na Colômbia (Colprensa -Sergio Acero)

Foi aí que os problemas começaram. O Pacto Histórico aprendeu com os relatórios do cartório que em mais de 29.000 tabelas, ou seja, 1 em 4, zero votos foram relatados para seu grupo, apesar de ter sido o mais votado nacionalmente. Para suas testemunhas e observadores, centenas de milhares de votos não foram contados ou relatados à autoridade eleitoral, e eles estavam certos.

Quatro dias depois, o cartório apresentou um resultado preliminar da contagem e a diferença na votação para esse grupo político foi pouco mais de 390.000 votos acima dos inicialmente relatados, enquanto outros grupos foram subtraídos alguns que aparentemente haviam sido atribuídos de forma errática.

O Pacto Histórico, formado por partidos de esquerda que tinham sido minoria no Congresso, passou a ter 19 assentos, três a mais do que no primeiro resultado. Enquanto o Centro Democrático e Conservador, os partidos governantes e a Coalizão Centro Esperanza, de movimentos alternativos moderados, perderam um assento cada.

A aliança política de Petro confirmou a irregularidade que denunciaram como um “borrão histórico de votos”, com sombras de fraude, e os resultados foram comemorados sem levantar desconfiança no processo. Mas o aborrecimento surgiu dos partidos governistas, incluindo os ex-presidentes Álvaro Uribe, chefe natural do Centro Democrático, e Andrés Pastrana, líder do Conservador, que anunciou uma fraude a favor da esquerda.

O processo eleitoral levanta uma recontagem dos votos, somente quando os claveros (juízes) encontram inconsistências nos boletins de voto ou quando partidos ou candidatos apresentam queixas individuais em um dos 12 fundamentos existentes. Por meio desse mecanismo, os partidos minoritários recuperaram assentos em eleições anteriores.

No entanto, após a controvérsia sobre os resultados das eleições, o secretário Alexander Vega, apoiado pelo presidente Iván Duque, solicitou uma recontagem geral para as eleições para o Senado, que é aquela em que as maiores irregularidades na contagem foram evidenciadas. Uma situação inédita no país, que põe em causa o processo, e que será o Conselho Nacional Eleitoral que definirá se ele é realizado ou não.

O Registrador sustenta que não foi uma fraude, embora situações maliciosas tenham sido evidenciadas, mas que corresponde a um erro no relatório inicial dos resultados da pré-contagem pelo formato dos formulários E-14 e ao desrespeito dos jurados nas instruções de processamento. Ainda assim, deve-se notar que o escrutínio realizado pelos juízes é vinculativo e as irregularidades são solicitadas tabela por mesa, pelo que alguns advogados defendem que uma queixa geral não seria permitida pela lei eleitoral.

Alejandra Barrios, diretora da Missão Eleitoral, explicou no programa Mesa Capital que o desenho do formulário deixou a caixa de relatório de votação do Pacto Histórico em um espaço pequeno comparado ao de La U, localizado acima dele no documento. Por causa dessa situação, ao relatar os resultados, sob a pressa de 13 de março, alguns júris ignoraram o resultado dessa coalizão.

Formulário E-14 do Pacto Histórico e do Partido da U.
Formulário E-14 do Pacto Histórico e do Partido da U.

Antes das eleições, foi divulgado nas redes sociais que as caixas vazias dos formulários estavam preenchidas com asteriscos para evitar uma suposta alteração evidenciada em eleições anteriores, a fim de evitar fraudes. Muitos jurados, conforme declarado pelo secretário, responderam a esta proposta em vez da dada pela autoridade eleitoral, riscaram os documentos e isso impossibilitou a observação visual dos números entre as outras figuras feitas nas caixas do relatório de dados.

O governo nacional estabeleceu uma Comissão de Garantias Eleitorais para definir como concluir a pesquisa e relatar dados oficiais. Em meio ao pedido de nova contagem, a oposição questiona a custódia dos votos, embora esse processo ainda não esteja concluído.

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