O mistério nunca resolvido do crime da jornalista mais bonita e famosa da BBC

Em 26 de abril de 1999, um estranho surpreendeu Jill Dando quando ela estava prestes a abrir a porta de sua casa e atirou na cabeça dela. Quase 23 anos após sua morte, ninguém sabe por que ela foi morta ou quem atirou. As hipóteses

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Registro da chamada para 999 (número de emergência britânico) na segunda-feira, 26 de abril de 1999, às 11h44:

- Estou andando pela Gowan Avenue. Parece que alguém quebrou... Confidencialmente, parece que é Jill Dando e ela quebrou. Há muito sangue - diz com voz quebrada uma mulher que mais tarde se identificará como Helen Doble.

- Você pode vir e verificar para mim se a senhora está respirando? — pergunta o operador.

-Não parece que ele está respirando. O sangue sai do nariz dele. Seus braços são azuis...

Só preciso saber se ele está respirando. O peito da senhora sobe e desce?

- Oh, meu Deus, não, eu não acho que ela está viva! Sinto muito...

Poucos minutos antes da chamada do 999, a âncora de notícias da BBC, Jill Dando, havia estacionado seu BMW muito perto de sua casa, no sofisticado bairro de Fulham, no sudoeste de Londres. Ela veio de fazer algumas compras — linguado, leite — depois de passar a noite na casa do namorado, o ginecologista Alan Farthing.

Murder Jill Dando, jornalista da BBC
A entrada para a casa de Jill Dando, onde o crime ocorreu. (Google Street View)

Quando chegou ao portão da Avenida Gowan, 29, encostou os pacotes no chão para tirar as chaves da carteira. No exato momento em que ela iria abrir, um estranho a agarrou por trás com o braço direito e pressionou seu rosto contra o degrau de entrada. Ao mesmo tempo, ele colocou em sua têmpora uma pistola de 9 milímetros com um silenciador que ele segurou na mão esquerda e disparou. O tiro foi logo acima da orelha esquerda da mulher e passou pela cabeça dela.

Jill Dando, apresentadora do CrimeWatch - uma das mais assistidas na televisão britânica - e apresentadora do Six O'Clock News, foi oficialmente declarada morta às 13h03 no Hospital Charing Cross.

O rosto da BBC

Alta, loira, expressiva, inteligente, de uma semelhança inconcebível com a malfadada Lady Di - falecida em agosto de 1997 -, aos 37 anos Jill Dando era o rosto mais conhecido da BBC.

Nascida em uma família de jornalistas - seu pai e irmão eram - ela começou sua carreira como médium em sua cidade natal, The Weston Mercury, e mais tarde leu as notícias para a BBC Radio Devon.

Em 1994 ela se mudou para Londres e lá ela escalonou sucessos como apresentadora dos programas jornalísticos Breakfast Time, Breakfast News, BBC One O'Clock News, Six O'Clock News, e a revista de viagens Holiday. Desde 1995, ele também apresentou, junto com o renomado jornalista Nick Roos, o programa CrimeWatch, um dos mais assistidos da televisão britânica. Além disso, a rede anunciou que seria a apresentadora principal do especial da BBC em 31 de dezembro de 1999 para dar as boas-vindas ao novo milênio.

Murder Jill Dando, jornalista da BBC
Seu noivo Alan Farthing (Captura de vídeo)

Os programas de chimentos e as revistas da sociedade seguiram passo a passo. A vida privada de Jill Dando sempre foi novidade. Seu noivado com o médico Alan Farthing continuou como uma novela, cujo final feliz - ou, finalmente, um de seus marcos - aconteceria em 25 de setembro, quando eles finalmente se casaram depois que o noivo obteve o divórcio de seu parceiro anterior. O lugar que eles escolheriam para a lua de mel era um dos debates do momento.

Mas Jill Dando não era apenas um rosto bonito da televisão, ela também apresentou pesquisas e tomou uma posição: nas redes de pedofilia, nos atentados no Kosovo ou no submundo do submundo londrino.

Portanto, a investigação sobre seu assassinato se abriu em uma ampla gama de possibilidades, mas sem qualquer certeza.

O assassino do sobretudo

Por causa da relevância da vítima e do choque público que levou à sua morte, a investigação sobre o assassinato de Dando mobilizou a polícia de Londres, que designou uma equipe de 45 oficiais sob o inspetor Hamish Campbell para a “Operação Oxborough”.

Sobre o suposto assassino, os policiais só conseguiram alguns fatos. O vizinho Richard Hughes viu um homem branco, com cerca de 6 pés e aproximadamente 40 anos, caminhando serenamente para longe da casa do jornalista. Ele usava um sobretudo elegante e usava óculos escuros.

Murder Jill Dando, jornalista da BBC
O inspetor Hamish Campbell conduziu a investigação do crime.

Duas outras testemunhas viram um homem com um casaco saindo da Avenida Gowan, 29. Eles o descreveram como tendo muitos cabelos escuros e óculos. Um vizinho falou de um homem de macacão que corria “suando abundantemente e com um gesto de contração”.

Nos meses seguintes, o grupo liderado pelo Inspetor Campbell, atendeu cerca de 80 mil telefonemas sobre o caso, entrevistou quase 5.000 pessoas, levou 2.500 depoimentos, analisou 14 mil e-mails e revisou 191 câmeras de vigilância de rua, cujas gravações mostraram que ninguém havia seguido Dando em seu viagem para a casa. A conclusão foi que o assassino estava esperando por ela e que, pela forma como ela cometeu o crime, ela era uma profissional.

A lista de suspeitos chegou a mais de dois mil, mas nenhum deles conseguiu provar nada.

As hipóteses

“Não descartamos nenhuma pista. Vamos analisar tanto a vida privada de Jill Dando quanto qualquer possível ligação com o programa de eventos que ela apresentou, o Crimewatch”, disse o inspetor Campbell na época.

Como em qualquer crime, parte da equipe policial se concentrou no círculo íntimo da vítima. O namorado, o irmão de Jill, seu agente, seus colegas de trabalho foram investigados. Seus álibis foram verificados e verificados novamente até que ficou claro que nenhum deles estava na Gowan Avenue no momento do crime. Todos os seus relacionamentos, sua situação econômica e os de seus parentes e contatos também foram revisados. O resultado foi nulo.

Outra linha da investigação apontou para a possibilidade de vingança. No CrimeWatch, Jill e seu parceiro Nick Ross analisaram crimes não resolvidos e pediram a colaboração dos cidadãos para encontrar os culpados. Eles pensaram em um criminoso ressentido e também em uma rede de tráfico que haviam denunciado, mas eram todos becos sem saída. Além disso, Jill apresentou apenas os casos e quem realmente investigou e apontou possíveis culpados foi Ross. Se fosse uma vingança, o alvo deveria ter sido ele e não ela.

A hipótese de “a conexão sérvia” também foi considerada. Os investigadores não puderam descartá-la porque poucos dias antes de sua morte, Dando havia conduzido um especial da BBC sobre refugiados do Kosovo. A intervenção da OTAN na ex-Iugoslávia e o bombardeio de um canal de televisão sérvio mataram 16 trabalhadores. O assassinato do rosto mais famoso da BBC pode ser uma retaliação.

A possibilidade de que o crime fosse obra de um perseguidor foi investigada minuciosamente, embora o modus operandi do assassino apontasse mais para um profissional do que para um desequilibrado. Três anos antes, Dando havia recebido - primeiro nos escritórios da BBC e depois em sua própria casa - uma série de cartas de um admirador que pretendia sair com ela. A polícia identificou o perseguidor, um homem de 60 anos que se desculpou e não a incomodou novamente. Após o crime, os investigadores encontraram cerca de 140 pessoas que haviam demonstrado um interesse incomum em Dando e também questionaram conhecidos perseguidores de celebridades. O culpado também não foi encontrado lá.

Meses se passaram e o caso, apesar da investigação intensiva, ainda estava atolado.

Culpar uma “salsa”

Os pratos quebrados da impotência policial acabaram sendo pagos por Barry George, um homem com deficiência mental que morava perto de Dando. E ele pagou caro por eles.

A polícia o prendeu em 25 de maio de 2000. George tinha três características que o colocavam como um suspeito promissor: ele se parecia fisicamente com o suposto assassino descrito pelos vizinhos de Jill Dando, ele tinha antecedentes criminais de assédio e ataques de modéstia e era obcecado por armas, que sabiam lidar muito bem.

O homem não tinha um álibi firme para o dia do crime, o que o tornou o bode expiatório ideal para um caso que questionava a eficiência da polícia.

Os investigadores apresentaram supostas evidências científicas que pareciam ligar George ao crime: uma partícula microscópica do que se dizia ser resíduo de bala, junto com evidências do caráter de uma fibra encontrada em sua roupa. A defesa argumentou que a presença de oficiais armados em sua prisão poderia ter sido responsável pelo resíduo do tiro.

Em 29 de maio — apenas quatro dias após sua prisão — ele foi acusado e em 2 de julho de 2001 foi condenado à prisão perpétua por um júri que o considerou culpado em uma cédula dividida.

Murder Jill Dando, jornalista da BBC
Barry George, a “salsa” que foi capturada e depois liberada (Captura de vídeo).

Depois de perder um recurso contra sua condenação em 2002, Barry George conseguiu que seu caso fosse revisto em 2007, resultando em um novo julgamento.

Os advogados de George concentraram sua defesa em novas evidências que levantaram dúvidas sobre o resíduo de pólvora atribuído a uma arma de fogo que foi encontrada em seu casaco no momento de sua prisão.

Em agosto de 2008, o tribunal o considerou inocente e ordenou sua libertação imediata.

“Não é hora de comemorar. Barry George, um homem inocente, passou oito anos na prisão por um crime que não cometeu. Esses oito anos poderiam ter sido melhor gastos na busca pelo verdadeiro assassino”, disse seu advogado, Jeremy Moore, em entrevista coletiva improvisada após o julgamento.

Ao lado dele, Barry George só conseguiu dizer: “Estou sobrecarregado. Quero agradecer à minha família e à minha equipe jurídica.”

Um “caso arquivado” para CrimeWatch

A decisão que libertou Barry George não estava de acordo com a acusação, muito menos a polícia: a investigação sobre o assassinato de Jill Dando terminou em fracasso, com o fator agravante de prender um homem inocente por oito anos.

A passagem do tempo, por outro lado, tornou mais difícil identificar o verdadeiro culpado.

Alan Farthing, o homem que ia se casar com Jill, e seu parceiro do CrimeWatch, Nick Ross, criaram um instituto acadêmico com seu nome. A BBC abriu um jardim em sua homenagem e instituiu a bolsa “Jill Dando”, destinada a financiar estudos de jornalismo para um aluno por ano na Universidade de Falmouth.

Quase 23 anos após o assassinato, o caso ainda está aberto sem sequer uma pista promissora. Tornou-se um “caso arquivado” digno do CrimeWatch, o programa de crime não resolvido apresentado pela própria Jill Dando.

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