Importação de livros: denunciam novos obstáculos e a falta de políticas públicas claras

Há um mês, muitos distribuidores acharam impossível trazer para o país os livros que planejavam exibir na tão esperada Feira do Livro. Eles garantem que as regulamentações atuais ameaçam a bibliodiversidade

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Como os livros publicados e publicados no exterior chegam às livrarias argentinas? Por meio de distribuidores que os importam. Em geral, eles trazem poucas cópias, algumas dezenas; geralmente são caros, mas necessários: caso contrário, não poderiam ser obtidos. Todos os meses, no site da AFIP, as empresas preenchem um formulário conhecido como SIMI: sistema abrangente de monitoramento de importação. Lá, você registra o que, quanto e como deseja importar; é a maneira pela qual as licenças e os pagamentos são oficializados no exterior. Mas, há um mês, uma nova disposição, um novo regulamento, vem complicando as importações.

Em 2 de fevereiro, quando Jorge Waldhuter tentou fazer o upload de um SIMI, ele não conseguiu: “Fui bloqueado por incapacidade econômica”. Há 28 anos, ele criou o Distribuidor Waldhuter, que agora administra com sua família e é um dos mais importantes do país quando se trata de livros. Todos estão se preparando para o grande retorno do “evento cultural mais importante do ano”, a Feira do Livro: de 28 de abril a 16 de maio em La Rural, que não pôde ser realizada nos últimos dois anos devido à pandemia. Para ampliar sua oferta, ele fez o pedido para importar livros, mas a CEF (Capacidade Econômica Financeira) o impediu de fazê-lo. “A AFIP diz que não temos dinheiro para importar ou pagar”, explica.

No mês passado, a AFIP introduziu novos parâmetros e fez ajustes. Diante da confusão, muitas empresas de diferentes setores reclamaram. Há um mês, em diálogo com a Infobae, o presidente da Câmara de Comércio da Argentina, Natalio Grinman, disse que “este situação é especialmente onerosa para novas empresas sem histórico de pagamentos estrangeiros ou operações de comércio internacional” e pediu maior rastreabilidade e mecanismos mais flexíveis para a formação do EFC. O objetivo do Governo, entende-se, é controlar o câmbio e que, na ausência de reservas, os dólares permaneçam aqui.

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Feira do Livro (Foto: Nicolás Stulberg/Arquivo)

“Temos que pagar royalties (royalties por direitos) às editoras espanholas e, para esse tipo de pagamento, também estamos sendo bloqueados”, explica Jorge Waldhuter, acrescentando que finalmente poderão contar com apenas 20% do que pensavam que importariam para vender na Feira do Livro. “Vai ser a feira com o conteúdo menos importado já visto”, diz, explicando: “Apostamos na bibliodiversidade, trazemos uma quantidade enorme de livros mas não mais do que 10, 20, 30 cópias por título”. Embora existam novas regras, todos apontam que existe uma política que existe há muito tempo. “A medida é um obstáculo que se soma aos que vêm chegando desde 2012", diz Waldhuter.

Os editores também são afetados pelo pagamento de royalties e adiantamentos a autores estrangeiros. Entre os rótulos que a Infobae Cultura consultou, alguns comentaram que tiveram problemas com o SIME de fevereiro, mas não até março. Eles não têm a explicação. “Em janeiro eles inventaram o CEF, a capacidade de enfrentar uma nova importação. A AFIP coloca um valor tão baixo em você que complica as importações que são pagamentos mínimos e certos”, diz Martín Gremmelspacher, presidente da Câmara Argentina do Livro. “Existem poucas cópias de cada livro e o objetivo é acompanhar a bibliodiversidade. O problema é que eles colocam na mesma troca aqueles que importam por mil dólares, por 30.000, que aqueles que fazem isso com milhões. É um filtro difícil de passar porque é renovado todos os meses. É tudo muito pesado”, acrescenta.

“Cada livro tem seu próprio registro de propriedade intelectual, com o qual os direitos autorais são registrados. O que quero dizer com isso é que se você não se importa com esse livro, esse livro não aparece. A CAL (Câmara Argentina do Livro) entende o fluxo de importações e exportações, defendendo que os livros argentinos estão por toda parte, mas também entende que há um setor que precisa importar livros, que acompanha a bibliodiversidade, é uma necessidade, um complemento”, diz Gremmelspacher e garante que eles têm Tentei falar com as autoridades e esse diálogo está aberto, mas que “até agora: resposta zero”.

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Feira do Livro (Foto: Nicolás Stulberg/Arquivo)

Horacio Brihet é contador, trabalha com empresas de diferentes setores e diferentes calibres. Um deles é o Distribuidor do Futuro, que importa livros. “O AFIP determina a capacidade financeira, quanto você pode importar, e o faz com base em uma fórmula desconhecida. Na Del Futuro não tivemos problemas, mas sabemos que eles cometeram um erro com várias empresas; não sabemos se consciente ou inconscientemente”, diz. A Câmara Argentina de Publicações disse à Infobae Cultura que as empresas que a compõem não tiveram problemas com importações.

“O que fomos aprovados para dezembro passado não é o que teríamos desejado”, diz Brihet, acrescentando: “Sempre há dificuldades, mas elas estão aprovando. Apesar dos obstáculos da burocracia, ruim que as coisas ruins vão, elas podem ser pagas, nós andamos. Precisaríamos de mais, mas funciona.” Para Jorge Waldhuter, no entanto, todo o sistema deve ser repensado: “O que vivemos desde 2012 não tem nome”, diz ele e lista diferentes obstáculos, como a Lei das Tintas, onde você não poderia importar mais de 499 cópias porque, se o fizesse, “você teve que passar por um estudo do livro que mostrou que o volume de chumbo na tinta não era prejudicial à saúde: era um insulto à inteligência”.

“Agora, de acordo com a AFIP, não temos a capacidade de pagar. Qualquer gerenciamento que você queira fazer na AFIP é digital. Você pede uma consulta, mas essa não está entre as opções, ou seja, elas não atendem a você”, diz Waldhuter. Essa desvantagem destaca um problema estrutural. Como a Infobae Cultura descobriu, muitas editoras formaram sociedades limitadas na Espanha ou no Uruguai para operar sem problemas. Existem interesses diferentes em jogo, mas todos os atores sustentam a mesma coisa: há falta de políticas públicas em torno da indústria editorial, que é cada vez mais punida apesar de sua alta qualidade e poder.

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