Em 14 de março de 1992, em Buenos Aires, não havia razão para acreditar que fosse um dia diferente de qualquer outro. Mas às 14h45 tudo mudou. Um homem-bomba, a bordo de uma van Ford F-100 cheia de explosivos, bateu seu veículo na frente do prédio da embaixada israelense, localizado em Arroyo e Suipacha.
Em segundos, a cidade estava um caos. Houve ferimentos, detritos, gritos. Como costuma acontecer, a confusão rege o ritmo não mais do quarteirão onde ocorreu o ataque, mas também da cidade. Além dos feridos visíveis a olho nu, supunha-se que o número de mortes logo seria avassalador. A cena foi completada com sirenes de policiais, bombeiros e ambulâncias que chegaram imediatamente ao local. Pela primeira vez em sua história, a Argentina foi vítima de terrorismo internacional.
Além da equipe da embaixada, houve vítimas ocasionais. Adultos mais velhos que moravam na casa de repouso em frente, pedreiros que trabalhavam no local, meninos e meninas de um jardim de infância e outros que passavam por aquele lugar naquela época.
A paróquia de Mater Admirabilis e dezenas de casas vizinhas foram obliquamente atingidas pelo ataque.
No total, as mortes totalizaram 29 e os feridos foram 242. Algumas pessoas hoje leram o ataque à embaixada israelense como uma peça ligada ao ataque à AMIA, perpetrado dois anos depois, em 1994.
ONDE ESTÃO OS CULPADOS DO ATAQUE?
Naquele dia e naquela época havia apenas confusão, embora hoje, 30 anos depois, não haja muitas mais certezas. Com o passar das horas daquele dia, diferentes versões começaram a circular.
O Presidente da Nação, Carlos Saúl Menem, assegurou que o fato respondeu aos resquícios do nazismo que ainda permaneciam no mundo, mas que não expressavam o sentimento geral da sociedade argentina.
Por sua vez, as autoridades israelenses começaram a seguir as pistas de uma conexão entre a Síria e o Irã. Algum tempo depois, a Jihad Islâmica, uma organização armada libanesa ligada ao grupo terrorista fundamentalista Hezbollah, assumiu a responsabilidade pelo ataque e explicou que seu objetivo era atingir os interesses israelenses em qualquer lugar do mundo.
Em 16 de fevereiro de 1992, um mês antes do ataque, o secretário-geral do Hezbollah, Abbas Musawi, havia sido assassinado no Líbano. Naquela época, Israel manteve sua presença militar no sul do Líbano desde o fim da guerra civil naquele país.
INVESTIGAÇÃO DO ATAQUE, TRINTA ANOS DEPOIS
Para determinar o que aconteceu em 17 de março de 1992, três investigações foram realizadas. Um pelo Mossad israelense, outro pelo FBI e o terceiro, o caso judicial na Argentina, pelo Supremo Tribunal de Justiça. Nos documentos do caso, ficou provado que a explosão foi causada por uma carga de pentrita e trinitrotolueno, que havia sido condicionado na parte traseira direita do interior da van.
Mas, devido à perda de evidências, atrasos e má administração, os perpetradores permanecem impunes.
As versões mais duras apontaram para Imad Fayez Mughniyah, líder do aparato de segurança externa do Hezbollah, como um dos principais autores do ataque. Mughniyah morreria em fevereiro de 2008, em um ataque com carro-bomba em Damasco, capital da Síria.
A Justiça apontou outros dois suspeitos: o libanês Hussein Mohamad Ibrahim Suleiman e o colombiano libanês José Salman El Reda, sobre quem pesam os pedidos de prisão internacional. O primeiro, por causa de sua suposta responsabilidade pela entrada de explosivos em nosso país, e o segundo, como braço financeiro do ataque.
No entanto, apesar dos 30 anos desde que o crime ocorreu, o progresso na investigação não foi satisfatório. Os nomes dos falecidos permanecem inscritos na praça da embaixada, aguardando que o ataque seja esclarecido e, por fim, a justiça será feita.
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