Em seu relatório mais recente, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) deu ao Equador diretrizes para superar a crise no sistema prisional que deixou pelo menos 316 mortos devido à violência nas prisões. Segundo a CIDH, o Estado deve retomar o controle das prisões e desenvolver uma política voltada para a prevenção do crime e não para o endurecimento das penas pelas quais a prisão é punível.
A Comissão reconhece que as prisões equatorianas estão nas mãos de quadrilhas criminosas. Além disso, o Estado equatoriano reconheceu que não tem controle sobre o que acontece dentro dos centros de reabilitação, que se tornaram a sede das gangues prisionais. Nas prisões do Equador, “os líderes desses grupos (gangues criminosas) cobram preços ilegítimos e abusivos de outros detentos por suas celas e camas, bem como pelo acesso a serviços”.
A CIDH preparou seu relatório com base em sua visita ao Equador entre 1º e 3 de dezembro de 2021. A visita foi conduzida pelo relator sobre os direitos das pessoas privadas de liberdade, Comissário Stuardo Ralon, juntamente com Tania Reneaum Panszi, Secretária Executiva, Maria Claudia Pulido, Secretária Adjunta de Monitoramento e Cooperação Técnica, e equipe técnica. O documento aborda as preocupações com a falta de controle e corrupção nas prisões: “a ausência de controle efetivo por parte do Estado nos centros onde ocorreram os atos de violência mais graves, o que teria resultado no controle intra-prisional pelas próprias pessoas detidas”, uma declaração foi lida.
Durante 2021, os banhos de sangue nas prisões deixaram centenas de mortos. A maioria dos mortos eram jovens em prisão preventiva acusados de delitos menores, e alguns até tiveram a votação de liberação, conforme publicado pela Comissão.
Segundo a CIDH, os problemas do sistema prisional equatoriano são “uma natureza estrutural que vem ocorrendo há pelo menos duas décadas”. Os principais motivos da crise, segundo o relatório, são o enfraquecimento das instituições, a eliminação do Ministério da Justiça e Direitos Humanos e seu impacto no ambiente prisional, ocorrido em 2018, durante a administração de Lenín Moreno. Também entre as causas estão a corrupção, falta de registro adequado de pessoas privadas de liberdade, redução do orçamento, falta de pessoal de custódia, falta de política prisional, política de prisão em vez de prevenção ao crime, superlotação, criação de mega prisões, o uso indiscriminado da prisão preventiva, entre outros.
Mudanças nas políticas públicas, dignidade para os presos e menos superlotação
Em seu relatório, a Comissão observa que os Estados devem estabelecer estratégias para desmantelar as estruturas criminosas enraizadas nas prisões que controlam diversas atividades criminosas, como o tráfico de drogas, álcool e a cobrança de taxas de extorsão de outros detidos e indica que “identificou que, por, em geral, essas estruturas operam em cumplicidade com as autoridades penitenciárias e outras forças de segurança”.
A CIDH é enfática ao apontar que deve haver políticas abrangentes que se concentrem na prevenção do crime e na reintegração social. O Equador, conforme explicado no documento, tem uma política punitivista e securista focada “em altos níveis de prisão e na construção de mega-prisões, a aplicação de prisão preventiva contrária aos padrões internacionais neste campo; extensão de infrações penais com privação de liberdade; endurecimento de sentenças; e desafios à aplicação de medidas alternativas à prisão preventiva e outros benefícios de libertação”.
Além disso, a Comissão observa que a institucionalidade do sistema prisional é enfraquecida pela “falta de informações claras, consolidadas, sistematizadas e automatizadas sobre a população carcerária; orçamento insuficiente para o sistema prisional, juntamente com a falta de foco na reabilitação; e pessoal penitenciário inadequado”.
Entre as recomendações feitas pela Comissão no relatório está o aumento do número de funcionários prisionais que devem ser responsáveis pela segurança prisional. Além disso, insta que o governo aja para reduzir a população carcerária, a fim de “remediar imediatamente qualquer situação habitacional acima do número estabelecido de lugares”.
Uma das ações concretas estabelecidas pela Comissão é que “por uma questão de prioridade, nenhum detido deve ser admitido no centro de detenção nº 1 de Guayas. Isso, tendo em vista a superpopulação, altos níveis de violência e a falta de controle efetivo por parte das autoridades”. A CIDH se refere à Penitenciária do Litoral, onde os massacres ocorreram no ano anterior.
Outra recomendação que a CIDH enfatiza é o uso adequado da prisão preventiva, uma medida de precaução que deve ser usada excepcionalmente, mas que no Equador é usada quase como regra. A Comissão indica que o uso indevido desse remédio resultou em 14.274 (39%) dos 36.599 presos no Equador, em novembro de 2021, detidos sem condenação.
Durante sua visita, que serviu para preparar o relatório, a delegação da CIDH constatou que as prisões equatorianas mantêm condições indignas para os presos e concluiu que esses centros “se desviam dos padrões interamericanos de privação de liberdade”. Entre as recomendações, a Comissão pediu garantias para os presos e pediu ao Estado que implemente “condições de detenção compatíveis com a dignidade humana e o respeito pelos direitos humanos” e que os presos sejam cuidados por pessoal de saúde e com “água suficiente, segura e aceitável”.
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