José Alejandro Godoy: “O problema fundamental da mensagem tem sido a total ausência de um objetivo”

O cientista político indica que o discurso do presidente Pedro Castillo destacou a desordem que existe em seu governo e a falta de clareza sobre o que fazer.

Peru's President Pedro Castillo greets Peru's national flag before addressing lawmakers a day after they voted to start an impeachment process against him, in Lima, Peru March 15, 2022. Ernesto Arias/Peru's Congress of the Republic/Handout via REUTERS ATTENTION EDITORS - THIS IMAGE HAS BEEN SUPPLIED BY A THIRD PARTY. NO RESALES. NO ARCHIVES

O presidente Pedro Castillo entregou uma mensagem ao Congresso da República treze dias depois que ele apareceu lá para responder pela vaga movimento. Para analisar seu conteúdo, a Infobae entrevistou o cientista político José Alejandro Godoy, que aponta que o problema fundamental do discurso presidencial era a total ausência de um objetivo.

Para o professor da Pontificia Universidad Católica del Perú, o apelo do Presidente Castillo ao Acordo Nacional dialogar com a oposição seria de grande relevância em meio a uma conjuntura tão polarizada entre os dois ramos do Estado.

- Foi uma mensagem de pacto de não agressão?

- Sim. Se você quiser explicar qual é a intenção da mensagem de ter uma espécie de pacto de não agressão. Acho que o presidente sabe que, por enquanto, o Congresso não tem votos suficientes para esvaziá-lo. E, por outro lado, o governo basicamente não tem ferramentas legais para poder fazer um avanço nas eleições porque também não tem os votos.

- Houve rumores sobre um projeto para avançar as eleições. O presidente, no final, não fez isso. O que teria acontecido se o presidente Castillo ousasse apresentá-lo?

- Provavelmente, naquela época, ele [Castillo] não teria conseguido nessa situação. A iniciativa não teria tido os votos para que fosse concretizada. É claro que há um núcleo duro de congressistas que estão apostando em um revezamento presidencial. Ou seja, o presidente deve sair, mas não o Congresso da República.

- Parece que a mensagem foi dirigida ao público com o objetivo de tirar um pouco dos escândalos de corrupção. Um relato de tudo o que ele fez e tem isso em mente para mais tarde.

- É a mesma retórica das mensagens de 28 de julho, que, normalmente, acabam sendo uma espécie de estado de lavanderia de todas as coisas que cada setor faz e não há ênfase, digamos, nas perguntas que tem que responder. Não existe uma estratégia muito clara e há apenas um pacto de não agressão. Além disso, o presidente perde vários minutos basicamente procurando coisas para serem feitas finalmente. O problema é que não há uma iniciativa clara, não há grande anúncio e nem mesmo uma grande conquista para mostrar. Então, digamos, você vê que não houve planejamento do que você queria procurar com essa mensagem.

- Uma mensagem conciliadora e o que ela fará. Isso já será verificado pelos números e análises de especialistas.

- Sim, mas além disso, acho que vendo isso estritamente pela comunicação, o problema aqui é que o presidente da república não escolhe um ou dois tópicos para se aprofundar e o que ele faz é uma lista, na qual simplesmente e simplesmente nada resta a ser dito. Então, digamos, tudo acaba sendo perdido.

Pedro Castillo com María del Carmen Alva no Congresso da República. Foto: Andina.

- Parece ser uma mensagem com generalidades.

- Eu acho que há alguma estratégia lá, também. Se eu me aprofundasse nos detalhes, provavelmente teria dado munição à oposição.

— O presidente também se referiu às denúncias a serem respondidas pelo Congresso no dia 28. Você fez os esclarecimentos necessários sobre o caso Karelim López ou a partida para o mar para a Bolívia?

- Penso que o principal problema das queixas que foram apresentadas não foi suficientemente explicado e não sei se uma mensagem à nação é o melhor espaço para poder explicar essas queixas de uma forma muito clara. Por outro lado, de fato, até agora vimos que nas queixas não há base para chegar a uma vaga por incapacidade moral.

- Mas foi uma prévia do que ele vai ter a dizer.

- Pode parecer, mas até agora não sabemos. Provavelmente, o presidente pode decidir deixar seu advogado sua defesa legal perante o Congresso.

- Quais foram as omissões?

- O problema fundamental da mensagem é a total ausência de um objetivo. O que foi feito mais do que dizer perder esse tópico ou anunciar algo. Creio que, pelo contrário, reflecte a desordem do Governo e a situação em que eles simplesmente e simplesmente não têm uma clareza do que fazer. E, por outro lado, digamos, não há propósito de alterar o curso que eles tomaram. É a sensação de que a mensagem deixa.

- O presidente também propôs que apresentará reformas e pediu na última parte a convocação do Acordo Nacional. Quão viável poderia ser nessa conjuntura?

- A proposta relacionada ao Acordo Nacional é um problema, digamos, geralmente acontece. Não é algo que, necessariamente, é novo. Claro e simples, o que acontece é que se recorre ao Acordo Nacional quando não há mais diálogo. É um espaço para consulta, mas ultimamente se tornou uma gaveta de alfaiate quando um presidente está com problemas.

- Você acredita que o Acordo Nacional não teria muita força para diminuir a tensão política.

- O problema é para que serve o Acordo Nacional.

— O presidente também aproveitou sua mensagem para listar uma série de ações tomadas pelo Congresso. Como a oposição deve aceitar essas críticas?

- Nessa parte, o presidente está certo. Não há dúvida de que existe um setor do Congresso na promoção da vaga do presidente Castillo. Agora, é claro, isso é mais voltado para três bancos, como Fuerza Popular, Avanza Pais e Renovação Popular, que não mudarão sua atitude em relação ao presidente. Faz parte de uma narrativa do presidente Castillo, que ressalta que não houve restrição ao comportamento político dessas bancadas após a disputa eleitoral.

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