Os Estados Unidos anunciarão na quarta-feira um aumento em sua assistência à Ucrânia, em um momento em que a pressão internacional está aumentando sobre a Rússia, para acabar com o bombardeio de alvos civis, e as negociações de paz estão avançando, hesitantes.
Uma fonte da Casa Branca anunciou que o presidente Joe Biden anunciará um adicional de US $800 milhões em ajuda para a Ucrânia nas próximas horas.
“No total, o presidente autorizou cerca de US$ 2 bilhões de ajuda” à Ucrânia desde o início de seu mandato, segundo fontes da Casa Branca.
O anúncio de Biden seguirá a intervenção do presidente ucraniano Volodymir Zelenksi perante os congressistas norte-americanos, na qual, sem dúvida, pedirá mais ajuda ao seu país e a criação de uma zona aérea de exclusão sobre a Ucrânia, algo que Washington está descartando por enquanto.
A ofensiva russa na Ucrânia entra em sua terceira semana e o cerco a Kiev está diminuindo. Na manhã de quarta-feira, fortes explosões foram ouvidas na capital e nuvens de fumaça foram visíveis de vários lugares, informaram jornalistas da AFP.
Os habitantes da capital devem respeitar o toque de recolher até quinta-feira de manhã e a imprensa também não pode circular. De acordo com as autoridades municipais, Kiev está passando por um “momento perigoso”.
- “Todas as guerras terminam com um acordo” -
Horas antes, em uma mensagem de vídeo, Zelenski mais uma vez exortou seus compatriotas a não desanimar em sua luta contra as tropas russas, mas deu a entender que o conflito terminaria com um acordo negociado.
“Todas as guerras terminam com um acordo”, disse, referindo-se às negociações “difíceis”, mas “importantes” que continuam entre Kiev e Moscou.
“As reuniões estão indo adiante”, disse. “Fui informado de que as posições nas conversações agora parecem mais realistas, mas precisamos de tempo e todas as decisões serão tomadas para o bem da Ucrânia”, disse.
Nos últimos dias, os ataques russos a alvos civis em Kiev se intensificaram, assim como o cerco à cidade portuária de Mariupol, que está passando por uma dramática falta de comida, água e remédios.
Cerca de 20.000 habitantes da cidade puderam ser evacuados nos últimos dias. Exausto e tremendo, eles narraram viagens aterrorizantes, em meio a cadáveres decompostos deitados nas ruas.
Mikola, um deles, pediu que seu sobrenome não aparecesse na entrevista e explicou que dirigiu seu veículo por um campo minado para escapar e evitar postos de controle russos.
“É a primeira vez em semanas que consigo respirar”, disse.
Na quarta-feira, a cidade ucraniana de Zaporiyia (sul) também foi atacada, um refúgio para as pessoas que fugiam de Mariupol e por enquanto bastante protegidas dos combates.
“Alvos civis em Zaporiyia foram bombardeados pela primeira vez”, disse o governador regional Olexandr Staruj no Telegram.
O conflito na Ucrânia já forçou mais de três milhões de pessoas a deixar o país, metade delas crianças.
“Os russos já mataram 97 crianças” bombardeando “escolas, hospitais e casas”, informou Zelenski aos deputados canadenses na terça-feira.
- Forças da paz? -
Analistas militares acreditam que a Rússia intensificou os bombardeios aéreos após a paralisação da invasão terrestre e como forma de pressionar as negociações com a Ucrânia.
“Eles viram que suas operações terrestres não foram bem-sucedidas e que, onde quer que alcancem vitórias, elas as alcançam a um preço alto que não é sustentável”, disse à AFP Mick Ryan, general australiano aposentado.
“Eles tiveram que passar para o 'Plano C', que é bombardear cidades e aterrorizar civis na esperança de que os ucranianos ganhem algum tipo de entendimento político”, acrescentou.
Na terça-feira, Zelenski admitiu que a Ucrânia teve que aceitar que não se juntaria à OTAN, um dos principais argumentos usados pela Rússia para justificar sua ofensiva.
O presidente russo, Vladimir Putin, acusa ainda as autoridades ucranianas de “não demonstrarem um compromisso sério com a busca de soluções mutuamente aceitáveis”, segundo a versão do Kremlin da conversa do líder com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
Na terça-feira, os primeiros-ministros da Polônia, República Tcheca e Eslovênia, partidários de uma linha mais dura dos países ocidentais a Moscou, se reuniram com Zelensky em Kiev.
Durante a visita, o vice-primeiro-ministro polonês Jaroslav Kaczynski pediu o envio de uma missão de paz da OTAN ou de outra entidade “que seja capaz de se defender e possa operar em território ucraniano”.
Mas tais chamadas ganharam pouco apoio nos países ocidentais, onde persistem temores de que isso possa desencadear uma guerra catastrófica com a Rússia, que possui armas nucleares.
Por enquanto, os países ocidentais optaram por isolar a Rússia diplomática e economicamente. Ou seja, eles aplicaram sanções severas que poderiam levar a Rússia a um possível incumprimento de sua dívida.
Esta quarta-feira, a Rússia deve reembolsar US $117 milhões em juros sobre dois títulos de dívida, o primeiro pagamento de uma série marcada para março e abril.
Em retaliação à operação militar na Ucrânia, cerca de US $300 bilhões das reservas da Rússia estão congeladas nos bancos ocidentais.
As sanções também forçaram a saída de Moscou de vários fóruns políticos e esportivos internacionais.
Na terça-feira, e com sua possível expulsão do Conselho da Europa, a Rússia anunciou sua saída do órgão europeu de direitos humanos.
Moscou respondeu a essas sanções e anunciou na terça-feira medidas punitivas contra Biden, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e vários membros de seus governos.
A Rússia também quer avançar com um projeto de resolução “humanitário” sobre a Ucrânia antes do Conselho de Segurança da ONU, que poderia ser votado na quinta-feira, mas tem poucas chances de prosperar.
Esta quarta-feira, o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) decidirá sobre uma liminar apresentada pela Ucrânia, que pediu ao mais importante tribunal da ONU que ordene que a Rússia cesse imediatamente a sua invasão.
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